terça-feira, 3 de setembro de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops setembro 03 - O CENTENÁRIO DE SIMÕES LOPES NETO



 Drops setembro 03 - O CENTENÁRIO DE SIMÕES LOPES NETO



2016 – CENTENÁRIO DA MORTE DE SIMÕES LOPES NETO

Pobre voluminho desajeitado! Dois grampos enormes, cheios de ferrugem. O frontispício, uma obra prima de mau gosto. O título composto por arremedo de gótico.E um tímido subtítulo: Folk-lore regional. Era a edição de Echenique, de 1912, feita em Pelotas, e que ainda me acompanha com a marca dos livros lidos e relidos.”Augusto Meyer , cit. Carlos Reverbel in “ Carlos Reverbel – Textos Escolhidos – Ed. Já – POA, 2006 pg 22
“Quando mais não fosse nele encontraríamos o Rio Grande velho de guerra.”(C.Reverbel  cit pg 30)

“Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.
A tambeira, que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde; o cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem; e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue têm cheiro de pescado. Assim também nos homens, que até sem comer nada dão nos olhos a cor de seus arrancos. O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e toma tenência doble com os raiados e baços!...
Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que, tantos olhos
(Simões Lopes Neto. Amboitatá  Obra completa. Porto Alegre, Sulina, 2003. p. 410-414)
 “Y por eso, así como esperamos que nuestra América se aproxime a la creación del hombre universal, por cuyos labios hable libremente el espíritu, libre de estorbos, libre de prejuicios, esperamos que toda América, y cada región de América, conserve y perfeccione todas sus actividades de caráter original, sobre todo en las artes: las literarias, en que nuestra originalidad se afirma a cada día (...)”. 
(Pedro Henrique Ureña  em “La Utopia de América”  Buenos Aires, La Estudiantina,1925

*
Daqui a três anos, celebrar-se-á o centenário da morte de Simôes Lopes Neto, ocorrida em Pelotas, no dia 14 de junho de 1916, pioneiro da mais autêntica literatura regionalista riograndense. Incidentalmente, há um século, vinha a público o que se considera seu principal livro : “ Lendas do Sul “ . Hora de começar a falar no assunto para advertir, com a  antecipação capaz de planejar iniciativas, tanto autoridades oficiais quanto acadêmicas, bem como os meios de comunicação, não só para enaltecer o autor, mas para reavaliar a obra que não mais lhe pertence. O regionalismo, enfim, como ressalta Letícia Nedel nos seus trabalhos,  sempre cumpriu na nossa história política e cultural uma centralidade ímpar. E provocou intensos debates sobre como tratar a “ tradição”, aí implícita. De resto, como diz Jacques Le Goff, a obra simoneana não é apenas um “documento” , mas já um monumento -  História e Memória , Ed Unicamp, 1990- .

Descubro-o ( o centenário de Simões Lopes Neto) por mero acaso. Não sou crítico, nem literato. Apenas curioso, quando muito um campeador de ideias. E conto como:
 Iba  yo , del aire al aire, como uma red vacia, caminando entre las calles, llegando y dispidiéndo uma de minhas costumeiras visitas a Porto Alegre, em meados deste ano,  quando tropecei no Beco dos Livros. Lá  vi exposto o “Textos Escolhidos “ – Ed. JÁ  -, de Carlos Reverbel. Uma estritamente cara tentação. Mas, enfim, só os fracos resistem à tentação. Não me arrependo...Comprei. Devorei parte do livro ainda no Hotel  e me chamou a atenção a forte presença de Simões Lopes Neto  na publicação. Não é para menos. Dom Carlos Reverbel, o mítico editor do Caderno de Cultura do Correio do Povo, depois de 1954, foi seu grande biógrafo, trabalho coroado em “Um Capitão da Guarda Nacional”, de 1981,  e virtual (re)descobridor do grande contista.  Não que Simões Lopes Neto fosse totalmente desconhecido antes dele, mas é fato reconhecido que foi injustiçado – ou incompreendido - por seus coetâneos.   E teve sua obra sempre relegada. Alfredo Bosi chega a se perguntar como conseguiu Simões Lopes Neto ser tão anterior à Mario de Andrade - “O Pré-Modernismo” ,1966. Seu primeiro livro , “ Cancioneiro Guasca”  havia sido publicado em 1910, logo seguido por “ Contos Gauchescos”  (1912) e “Lendas do Sul”, um ano depois, todos editados modestamente e lançados em Pelotas, vindo a merecer de João Pinto da Silva, em sua Historia da Literatura do Rio Grande do Sul (1930), elogiosas referências. Já em 1913 aparecia Simões Lopes, também, com algum relevo,  como membro da Academia Riograndense de Letras. Sua correspondência com Augusto Meyer, no início do século, que vale a pena reler, comprova o trânsito que o tornava conhecido fora da escala local. Porém, mesmo havendo transitado pelo Rio de Janeiro como estudante de medicina, curso que jamais concluiu, Simões Lopes Neto seria o eterno escritor municipal, transformando-se num sopro que ainda ronda os casarões pelotenses. Por todos os ares da cidade pressente-se sua passagem.

 Contudo, desde então, até o pós-guerra,  era Alcides Maia , autor de “Ruínas Vivas” e “Tapera”, em 1910, quem empolgava a  referência regionalista,  como atesta a polêmica entre  Paulo Arinos (M.Vellinho) e Rubens de Barcelos, no “Correio do Povo” em 1925, sobre o primeiro romance de   Maya ,  e os diversos debates entre o próprio Alcides Maya e Dante de Laytano, tempos depois (Correio do Povo -1936).  Nelas não se fala no criador do “ Nego Bonifácio”, embora Marlene Medaglia Almeida faça esta curiosa  observação:
“A década de vinte no Rio Grande do Sul, com o projeto de um "regionalismo renovador" marginalizando o modelo alcidiano para resgatar a vertente estilística de Simões Lopes, até então pouco difundida, e a de trinta, quando o "regionalismo gaúcho" genericamente passou a ser considerado uma expressão literária superada frente a novas modalidades estéticas, constituem momentos estratégicos para analisar o comportamento de Alcides Maya. 
(...)
      É de notar, no entanto, que a posição de Damasceno Ferreira antecipava a tendência emergente na década de trinta, configurando uma inflexão substantiva em relação à década anterior, quando o menosprezo estilístico e temático do "modelo" alcidiano, associado à ressurreição do mais espontâneo e otimista peculiar a Simões Lopes fora um dos fatores de sustentação ideológica do projeto político da Aliança Liberal”

Na verdade, foi preciso um momento particular de fermentação intelectual no Rio Grande do Sul para que a obra simoneana ganhasse relevo.  Ela viria a acontecer no pós-II Guerra, não só pelo clima de euforia mundial e intercâmbio internacional daí derivado, consagrando, por exemplo, a profunda influência do romance americano na literatura e de Sartre na Filosofia - http://www.torres-rs.tv/site/pags/nacional_literatura2.php?id=548%22, como, internamente, pelo fim do Estado Novo e retomada vigorosa da questão regional, fortemente reprimida pelo centralismo autoritário daquele período. Lembre-se, a propósito, da cerimônia da queima das bandeiras estaduais no Rio de Janeiro, em 1937.

“Logo após a decretação do Estado Novo, em dez de novembro de 1937, presenciou-se num estádio do Rio de Janeiro um singular espetáculo propagandístico. O próprio Getúlio Vargas em pessoa, perante uma arquibancada lotada e atenta, imbuída de fervor cívico, presidiu a chamada cerimônia da queima das bandeiras. As flâmulas estaduais eram, uma a uma, incineradas numa grande pira erguida em meio a pista do estádio. Cada pano colorido devorado pelas chamas, que supunham estar a queimar a serviço de uma pátria unida, colhia os aplausos da multidão. Doravante nenhuma parte da federação teria mais a sua bandeira. Apenas a do Brasil imperaria. Só o chefe da nação, o presidente Getúlio Vargas, mandaria. Afinal, na prática, também não existia mais a federação, pois cada estado estava em mãos de um interventor e cada município a mando de um intendente.
Por instância dos representantes do Rio Grande do Sul, presentes no espetáculo pírico, encaminhou-se ao ditador o pedido para que a bandeira do nosso estado, a tricolor herança dos farroupilhas, não sofresse o destino das demais. Getúlio Vargas poupou-a. Mas não salvou-se a nossa história regional. Ela foi-se dos livros, banida dos manuais escolares.
(Voltaire Schilling – História - http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/rs.htm)

Houve, porém, um antecedente a tudo isto, no tocante à obra de Simões Lopes Neto. A Livraria Globo, por iniciativa do “ Grupo Globo”, um punhado de escritores que a freqüentava diariamente, havia publicado, em 1928 a segunda edição – conjunta -, ainda modesta e de difícil escoamento,  de “Contos Gauchescos”  e “Lendas do Sul”. Há quem veja  já neste fato uma transição de Maya para Simões, embora isto seja mais claro mais tarde,  depois que a vaga modernista e renovadora viria a se juntar em torno da “Revista Província de São Pedro”/Globo, que circulou entre1945 e 1957 -http://www.torres-rs.tv/site/pags/rgsul_literatura2.php?id=1283%22 :
“ Por fim, coincidindo com o movimento modernista neste Estado (RS) , naqueles arejados  dias de inventário e revisão  de valias, escritores nossos, novos na época, tendo à frente Augusto Meyer, Azambuja, Cyro Martins , J.O.Nogueira Leiria e outros , reivindicaram para Simôes Lopes Neto o seu verdadeiro lugar dentro da literatura do Rio Grande , simplesmente colocando-o na justa posição que lhe era devida , sem com isso  pretenderem estabelecer uma escala de valores por comparação ou absurdo que o valha”.

Carlos Reverbel – In “ Tu és a minha estrela do sol posto” publicada originalmente na Revista do Globo de 25 de agosto de 1945, citado em “ Textos Escolhidos” , Org. por Cláudia Laitano e Elmar Borges Ed. Já , POA 2006

Carlos Reverbel terá um papel especial neste grupo. Oriundo de São Gabriel transita por Pelotas, onde, em1945, já como experiente jornalista, conhece Antonio  Gomes da Silva, um português letrado que editava o Jornal Opinião Pública. Aí, entre contos de Machado de Assis, Eça de Queiroz e famosos autores franceses,  apareciam, desde há algum tempo, os equivalentes de Simões Lopes, tendo, ele próprio, sido seu  redator e diretor. Virtudes, a propósito, dos jornais de antigamente, com suas indefectíveis páginas de literatura. Fascinado, Reverbel escreve e publica na “Província de São Pedro”, no mesmo ano, o “ Esboço Biográfico de Simões Lopes”, cuja íntegra se encontra no citado “ Textos Selecionados” . Pouco tempo depois, em 1949, o próprio Reverbel, com o apoio de Érico Veríssimo,  produz uma nova edição crítica pela Globo de “Contos Gauchescos” e “Lendas do Sul”, contendo seu ensaio biográfico de Simões Lopes Neto, mais a participação de Aurelio Buarque de Hollanda  e Prefácio de Augusto  Meyer . Consagram-se, então, o autor e seu biógrafo, que faz de sua obra mais do que um relato de vida de Simões Lopes Neto, mas uma radiografia da sociedade gaucha nos anos 20:
Aliás, tenho para mim que também se trata de bastante mais do que pura biografia. Em verdade, na reconstrução da vida de Simões Lopes, revelou o amplo domínio que Reverbel possuía da história, da sociologia, até mesmo de certos ramais da filologia. O livro que daí resultou contitui um corte transversal na sociedade gaúcha ao início do século 20 . A visão que se apresenta é panorâmica; os juízos nunca são unilaterais, sempre convidando a novas indagações  e desdobramentos. Foi justamente isso que provocou novas abordagens  de Simões Lopes, cuja fortuna crítica multiplicou-se de maneira impressionante a partir daí.
     (Flavio Loureiro Chaves – Carlos Reverbel – Textos Escolhidos)

O ano de 1949 é, aliás, um divisor de águas na história da cultura riograndense.  Talvez tenha sido este o ano em que Porto Alegre sepultou em mistérios um estilo de vida aristocrático cevado em Confeitarias elegantes e a frequência “a rigor” à Ópera, no Teatro São Pedro, abrindo-se para uma era de variadas expressões sociais. Os discursos de escadaria cedem lugar aos diálogos radiofônicos, que culminarão nas “ Palestras” de sexta à noite do Governador Brizola (1958-1962). Aí emerge a cultura dos imensos e democráticos Cinemas – um deles, o Castelo, na Azenha, teria a capacidade para mil e duzentas pessoas -  enquanto  o apelo boêmio de  Lupicínio Rodrigues - face visível de famosos cabarés que perdurariam até os anos 60 – ganha as madrugadas. A alma da cidade desce do pedestal da Praça da Matriz para o Mercado Público. E a metrópole se alastra pela ruidosa Avenida Farrapos, inaugurada na década.

Porto Alegre nos anos 1950 já tinha seu desenho largamente transformado pela arquitetura modernista, que incluía grandes melhorias na planta urbana e grandes prédios públicos. A cidade já realizava sua Feira do Livro,26 dispunha de um museu especialmente dedicado às artes, o MARGS, uma universidade federal, a UFRGS, ouvia os concertos de sua nova orquestra sinfônica, a OSPA, e nomes como Mario QuintanaAldo ObinoLupicínio RodriguesDante de LaytanoAldo LocatelliÉrico VeríssimoManuelito de OrnelasPaixão CôrtesWalter SpaldingBruno KieferTúlio PivaBarbosa LessaArmando AlbuquerqueAdo Malagoli e Ângelo Guido, entre muitos outros, já eram referência nos campos da literatura, poesia, historiografia, tradicionalismo e folclore, artes plásticas, música e crítica de arte.2 16
Na virada para a década de 1960 a vida boêmia de Porto Alegre enriquecera com um forte colorido político e cultural, reunindo expressivo grupo de intelectuais e produtores artísticos influentes, alinhados ao Existencialismo e ao Comunismo. Entre o fim da década anterior e os anos que precederam o golpe de 64 foram montadas peças teatrais de vanguarda, em abordagens polêmicas e desafiadoras do status quo; as artes plásticas mostravam uma feição realista/expressionista muitas vezes de cunho social, regionalista e panfletário, destacando-se a atividade de artistas como Francisco StockingerVasco PradoIberê Camargo e os membros do Grupo de Bagé (de fato atuantes na capital) e do Clube de Gravura de Porto Alegre. Nessa época a Livraria Vitória se tornara a maior arena de discussão filosófica e política.2 3 13
Nos anos 1950 o estado apresentava uma das melhores perspectivas de vida do país. A vida do gaúcho se estendia em média até os 55 anos, 30% acima da média nacional, enquanto que a mortalidade infantil era metade da brasileira; a incidência de tuberculose estava em franco declínio; iniciava-se a fluoretação da água potável; havia cerca de dois mil médicos em atividade e mais de vinte mil leitos hospitalares disponíveis.27 O ensino por todo o estado atingia um grau de sensível avanço, expandindo-se bastante para a zona rural, e com grandes colégios atuando em muitas cidades, sendo que para isso se contou frequentemente com o esforço dos religiosos, especialmente os católicos, mantenedores além de colégios também de hospitais, asilos e outras obras assistenciais. No fim da década de 1950 havia mais de duas mil escolas primárias, e as faculdades se multiplicavam, chegando a quase 150.28 O número de cidades com mais de cinco mil habitantes chegava a cerca de 70 e se patenteava a conurbação de Porto Alegre com as cidades vizinhas, formando uma região metropolitana com mais de 800 mil habitantes, quando o total do estado ultrapassava 5 milhões.
                                                                       Wikipedia

A Província não reflete mais, apenas, os longínquos ecos da Paulicéia Desvairada, nem os poucos contatos dos filhos de estancieiros que iam estudar na Capital do País, o Rio. Lá já havia passado, com lustros e deslustros, mas com indelével presença, por cinco lustros,   no comando da Nação, um conterrâneo, Getúlio Vargas, estreitando sobremaneira os laços do extremo sul com o  do centro do país. O ano de 1932 é assinalado, também, como de inflexão de uma economia eminentemente rural, para uma economia urbano-industrial, com reflexos na cultura e nos debates sobre o regionalismo, como demonstra o debate entre Athos Damasceno e Vargas Neto nesta data:
O Correio do Povo e A Federação, entre junho e julho de 1932. Pertencentes ao célebre “Grupo” que reunia a intelectualidade local em torno da Livraria do Globo e dos Bares e Cafés de Porto Alegre, os polemistas são definidos aqui como intelectuais preocupados com a representação do Rio Grande do Sul no recente contexto de industrialização e de mudanças no comando do poder central. Os posicionamentos na contenda são compreendidos à luz do processo de ressemantização do regionalismo em voga em todo o país desde o início do século XX. Levando isso em conta, as opiniões de Damasceno em relação à identidade regional recebem maior atenção, uma vez que parecem imersas nesse processo. O debate relaciona-se ao período de questionamento do futuro da representação do homem do pampa em tempos de progresso e da inserção do intelectual sul-rio-grandense no cenário cultural nacional

 Mais importante, ainda, do que a publicação do  “ Esboço de Biografia de Simões Lopes”, de Reverbel,  1949 foi o ano, também, da publicação de  “ O Continente” , primeiro volume de “ Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo. Porto Alegre, economicamente fortalecida na Era Vargas, com uma população  mais cosmopolita, ultrapassa as fronteiras do ativismo positivista e exulta em novas fronteiras da filosofia, da literatura e artes plásticas. Mesmo na ação política há dois deslocamentos importantes: Primeiro, a entrada em cena de novos protagonistas, tanto urbanos, no bojo das eleições para a Constituinte  de 1945, como do interior, aí relevando os primeiros representantes das regiões coloniais, até há pouco controladas pelo Estado. Leonel Brizola, eleito deputado estadual em 1945, com 21 anos, é um indicador desta mudança, que acabaria desfalecendo o poder patriarcal da campanha. E é ele, também, o marco de outro deslocamento: uma reorientação estratégica no campo  do castilhismo, ao qual se filia, e que já se encontra  virtualmente esvaziado  do clamor republicano que o nutria ,   em vista do  distanciamento da restauração  monárquica, para as demandas sociais das massas urbanas emergentes. Hora de aposentar o lenço branco de Antonio Chimango, que irá para a tumba com Vargas, em 1954, substituindo-o pelo vermelho das multidões...

Durou cerca de 20 anos a vaga iluminista iniciada em 1949. Neste período Porto Alegre consolidou-se como centro cultural e político do Rio Grande, ganhando uma envergadura metropolitana e cosmopolita. O novo impulso mundial, deflagrado com o Maio de 68 em Paris, que se espalhou como um rastilho pelo mundo inteiro, também chegou ao Brasil, mas tropeçou no fatídico AI 5 de 13 de dezembro de 1968. Começavam os Anos de Chumbo. Enquanto o mundo “ ia” celeremente em direção à incerteza, regredíamos aos porões da ditadura. As conseqüências atingiram Porto Alegre e o Rio Grande.  Uma tragédia, da qual sobrenadou a memória da resistência não só política, aí ressaltando a importância da Assembléia Legislativa como espaço de debates, e cultural, na qual dois espaços se destacam: a “Boca Maldita” e o “COOJORNAL “:

Resistência intelectual[editar]

Nesses anos de chumbo, com o ambiente rigorosamente controlado, a vida intelectual independente sobrevivia em guetos. Um dos mais célebres foi a "Esquina Maldita", em Porto Alegre, localizada diante do campus central da UFRGS. De acordo com Nicole dos Reis, foi
"um ponto de discussão das questões políticas locais e nacionais pelos intelectuais e artistas da época. Era um surgimento de um espaço de contestação em um bairro, o Bom Fim, que é citado (…) como o principal ponto de sociabilidade dos componentes desta rede social".31
Juremir Machado da Silva complementa, reforçando sua importância, dizendo que ela foi um espaço em que
"intensificou-se as lutas pela emancipação da mulher, fortaleceu-se o respeito pelos homossexuais, combateu-se o machismo, viveram-se radicalmente os sonhos das relações abertas e da liberdade sexual. Ou seja, partiu-se para a defesa das diferenças. Pela esquina maldita, Porto Alegre mergulhou na pluralidade cotidiana, caminhou em direção ao direito à singularidade e aprofundou-se no exame e na recusa do conservadorismo moral.
Wikepedia


E chegamos aos dias atuaisAgora, a “ Nova Era”, já em curso há alguns anos no resto do mundo, como  revolução no processo da comunicação humana em sua interação com tecnologia em escala global – a escrita digital -  no rastro da “ Seis propostas para o próximo milênio”, de Italo Calvino, Cia. Das Letras, 1990  – leveza , rapidez, multiplicidade, exatidão, visibilidade e consistência /mamutemidia@mamutemidia.com.br -, nos surpreende, como vértice da redemocratização. Chegamos ao futuro. Para onde vamos?  Como reagiremos? Quais os atores da nova fase? Quais os veículos da consciência emergente das novas mídias?

10. Global Internet Usage Based on Time of Day

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