segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sem clima só resta a Cabral pedir as contas - Pedro Porfírio


BLOG DO PEDRO  PORFÍRIO

segunda-feira, 22 de julho de 2013
Sem clima só resta a Cabral pedir as contas

Governador do Estado do Rio personifica como  ninguém tudo o que o povo indignado quer ver pelas costas
 

Na manhã de quinta-feira, 18 de julho de 2013, comerciantes do Leblon e Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, contabilizavam os prejuízos de mais uma noite de fúria de  milhares de pessoas que mantinham viva em frente e nos arredores da casa do governador Sérgio Cabral a cólera da turba contra os favorecimentos, negociatas, corrupção e mau uso dos recursos públicos.
 
Dono da Toulon em lágrimas

Eduardo Balesteros, dono da Toulon, uma loja tradicional de roupas na Ataulfo de Paiva, chorava: todo o seu estoque tinha sido saqueado pelos vândalos que haviam elevado os protestos à sua temperatura máxima depois que a tropa de choque da PM isolou a quadra onde mora o governador, na qual, por semanas, manifestantes permaneceram acampados pacificamente.

PM que, de forma calculada, deixou correrem soltas as depredações, sob pretexto de um acordo com o Ministério Público e a OAB para não usar balas de borracha e gás lacrimogênio contra os manifestantes.

O Leblon é o bairro do metro² mais caro do Brasil – na verdade,  um dos mais caros do mundo. É lá que o Sr. Sérgio Cabral Filho mora com esposa atual,  a  ex-assessora Adriana Ancelmo, cujo escritório de advocacia representa algumas concessionárias, como o Metrô e a Supervia,  que tiveram suas concessões prorrogadas por 25 anos por ele, mais de dez anos antes da data prevista para a renovação, num favorecimento explícito e injustificável.

O que seria um benefício para a vizinhança tornou-se um tormento diário: ali em frente e nas proximidades do seu prédio na rua Aristides Espínola ninguém tem mais sossego. Embora  os protestos iniciados em junho tenham arrefecido na maioria das cidades, a pressão dos manifestantes parece cada vez maior sobre o governador do Estado do Rio de Janeiro. Maior e mais radicalizada.
De fato, não há mais clima para Sérgio Cabral permanecer à frente do governo do Estado. Por impulsos incontroláveis, ele continua repetindo as velhas práticas abomináveis, como se nada tivesse acontecido, num conjunto de atos tão abusivos que revolta o mais pacífico dos cidadãos.

Não seria exagero dizer que o mau comportamento desse governador de 50 anos supera em muito o de velhas raposas que poderiam ser seus pais. Faz pouco mais de uma semana, mesmo em meio à onda de protestos, a revista ÉPOCA divulgou superfaturamentos e direcionamentos em duas licitações para obras que somariam mais de R$ 1 bilhão no âmbito da Secretaria do Ambiente. Tal foi a repercussão da denúncia que o seu secretário, Carlos Minc, petista de alto coturno, se viu obrigado a revogá-las 48 horas depois de publicada a reportagem.

Uma trajetória de malfeitos desde a sua posse

Desde o primeiro dia em que se fez governador pelas mãos de Garotinho, de quem se livrou antes mesmo da posse, Cabral se transformou no pior exemplo de administrador, tornando ostensivo o desprezo pelos deveres do ofício e notabilizando-se pela ponte aérea para Paris, que fez com que em um ano passasse 1 terço do calendário fora do Brasil.
 

Cabral e secretários em noitada de farras em Paris
na companhia do empreiteiro Fernando Cavendish

Seu envolvimento direto e pessoal com empresários com quem trocava favores sempre foi do conhecimento público. Assim foi com Eike Batista, para quem fez todos os gostos, desde as desapropriações arbitrárias na área para a construção do Porto do Açu, em São João da Barra, sacrificando milhares de agricultores, até a provatização do Maracanã, no mesmo instante em que o Estado havia concluído sua reforma, ao custo de mais de R$ 1 bilhão de recursos públicos.

Assim foi com  a transformação da empreiteira Delta, de Fernando Cavendish,  seu parceiro de farras, em beneficiária de recheados contratos suspeitos de grandes obras, com tratamento privilegiado, inclusive pagamentos por serviços antes de sua medição.



De traição em traição, sempre por cima da carne seca

Ao chegar ao executivo do Estado, Cabral já havia entrado para a crônica dos políticos sem recato quando exerceu a presidência da Assembléia Legislativa. Primeiro, na cobertura ao governador Marcello Alencar, a quem escorou na farra das privatizações até o dia em que rompeu, numa briga de bastidores, no crepúsculo do seu governo, quando  ocorreria a última privatização, a da  CEDAE, após as eleições em que a oposição venceu.

Semanas depois já era aliado íntimo de Garotinho e de Rosinha, aos quais juntou-se  quando o comando do Executivo mudou, passando a usar seu cargo de presidente da Assembléia no troca-troca  do jogo pesado dos interesses espúrios.

Á época, circularam pela internet relatos circunstanciados da transformação das inspetorias da Secretaria de Fazenda em tomadoras de dinheiro para ele e para vários deputados da “base aliada”. Tais acusações, por anônimas, nunca foram apuradas pelo Ministério Público. Portanto, não podem ser apontadas como verdadeiras.

Uma mansão de luxo a "preço de banana"

Sérgio Cabral Filho figura até hoje no folclore das fraudes escriturais quando declarou  ter pago apenas R$ 250 mil por uma luxuosa mansão  avaliada em R$ 5 milhões,no Condomínio Porto Bello, em terreno de 5 mil m², numa paradisíaca praia de Mangaratiba.

Reeleito graças a uma coligação de 17 partidos, que incluía antigos rivais, como o PT e o PDT, Cabral ficou em palpos de aranha após um acidente de helicóptero em Trancoso,  Bahia, no dia 17 de junho de 2011.

Naquela noite fatídica, além de perder pessoas queridas, como a namorada do filho, a esposa do empreiteiro Fernando Cavendish, e sua irmã, muito amiga do governador, viu tornadas públicas, de forma escandalosa, suas promíscuas relações com empresários que mantêm relações de negócios com o Estado, inclusive Eike Batista, em cujo jatinho viajou com os convidados que iam à festa de aniversário do empreiteiro, logo em seguida apontado como sócio de Carlinhos Cachoeira, escroque  cujos tentáculos abrangem muito mais do que o jogo do bicho, seu primeiro ramo.

Além de pilhado em malfeitos indefensáveis, o governador fluminense que exige da presidenta Dilma Rousseff e do PT exclusividade na apresentação do candidato a seu sucessor, é também campeão da impunidade.

O procedimento aberto no âmbito do Ministério Público estadual para configurar a falta de decoro explicitado pelo episódio do helicóptero foi arquivado pelo ex-chefe do Ministério Público, Cláudio Lopes, que não viu  nenhuma transgressão, da mesma forma que ninguém viu nada demais numa farra em Paris documentada em fotos de Cabral, alguns sequazes e do mesmo  Cavendish, hoje em desgraça e abandonado por ele, de onde se supõe que fotografias tão íntimas poderiam ter saído dos  arquivos do empresário, num rompante de raiva incontida.

Fora disso, são públicos e notórios os atos de favorecimentos aos empresários de ônibus, apontados em reportagens de Luiz Ernesto Magalhães em O GLOBO, de onde circula pela internet até a notícia de que sua esposa Adriana Ancelmo seria filha de Jacob Barata, o poderoso chefão do sistema de transportes rodoviários do Rio de Janeiro.

Quem quiser, poderá transformar em um best-seller o dossiê sobre a variedade de estripulias do governador fluminense,  cujos tentáculos se estendem a Brasília.  Foi graças aos seus métodos articulatórios que o deputado Eduardo Cunha, um político que cultiva maus hábitos sem qualquer cerimônia, se fez líder da bancada federal do PMDB, transformada no mais poderoso antro de pressão e lobismo da República, ao ponto de manter acuada e tirar o sono da presidenta de cujo governo participa.
Tudo isso explica a concentração e permanência dos protestos cada vez mais quentes na figura de Sérgio Cabral, sugerindo que eles poderão continuar a acontecer em situações cada vez mais desconfortáveis para ele.
Manifestante preso nos protestos do Leblon. A foto fala por si.

Além das manifestações de rua, a internet repete peças acusatórias em milhões de e-mails, o que cria uma situação insustentável para o governador, respingando para todos os lados e atingindo autoridades amigas.

Pode ser que essa onda nacional, com repercussão internacional, aponte como única alternativa lúcida a realização de uma investigação independente  sobre os malfeitos arquivados ou a própria renúncia do governador.
Ninguém de sã consciência admite que ainda exista clima para que Sergio Cabral permaneça à frente de um dos Estados mais importantes do país, com inevitável e desagradável fragilização de todo o arcabouço político nacional.


 

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