sexta-feira, 5 de julho de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - & Drops - Inf.Diário paulotimm.com : MORDOMIAS

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MORDOMIA: HERANÇA ODIOSA DO COLONIALISMO


Paulo Timm – Torres, julho 05 - Copyleft

Os últimos dias o país, já cansado de guerra, como a velha Tereza, soube-se do verdadeiro descalabro de autoridades no uso de jatinhos da FAB para passeios, rodeios e outros floreios de caráter eminentemente pessoal. Um horror! Descobre-se que  as ditas autoridades, de todos os Poderes, de todos os afazeres, para todos os prazeres, há tempos fazem uso deste recurso e até o acham natural. Chega a ser de pasmar ouvir do experiente – talvez experiente até demais, ou até mesmo esperto, como diria a Presidente! – que ele realmente use os aviões da FAB em seus traslados porque os mesmos “ são de representação do Presidente do Senado” . Ora, Senador, em primeiro lugar, o Senhor, se tivesse vergonha na cara, não estaria à frente do Congresso Nacional. Seu nome nesta função – ou cargo, ou encargo – já foi rejeitado por um milhão de brasileiros, em abaixo assinado que lhe foi entregue e, mais recentemente repudiado  em manifestações de rua por todo o país: FORA RENAN!!! Em segundo lugar, deveria saber, como uma autoridade importante, as regras de uso dos jatinhos da FAB. Dentre elas não está contemplado o uso dos mesmo para ir a casamentos, batizados ou estréias de amigos e pares da Grande Casa Celestial – (Senadores, na intimidade se referem ao Senado como “ o céu” tão cheio de regalias ali dispõem) . Digo-o por ouvi-lo pessoalmente, nos anos em que lá trabalhei como Assessor Técnico de um Senador durante a Constituinte.  Finalmente, Renan: Se manque. Fique quieto. Preserve seu mandato ...

A questão, no entanto, do uso dos jatinhos traz à tona o tema da Reforma Política que Governo, Partidos e Políticos de todos os matizes tentam reduzir à uma mera questão de ordem : Plebiscito ou Referendo, agora ou depois...?

 A Reforma Política, no Brasil, se impõe como uma medida revolucionária, em obediência ao clamor popular, nos moldes da Revolução de 30, embora por caminhos legais, para romper com um estilo do fazer política entre nós. Vargas, a ferro e fogo, acabou com a eleição a bico de pena, que seus correligionários aqui no Rio Grande usaram e abusaram. A tal ponto que levou ao banho de sangue de 1923, já prenunciado duas décadas antes, por inspiração de Silveira Martins. Mas enfim, parece ter sido nossa versão napoleônica da modernização. O país, bem ou mal, mudou. O século XX se divide inevitavelmente entre AV e DV, ou seja, Antes de Vargas e Depois de Vargas. Agora, o momento aponta para a necessidade de uma nova ruptura. Trata-se de mudar os atores, os mecanismos, as instituições, a cultura política. A que aí temos é ainda o retrato do Império, o qual  se nutriu ,  por um  Bragança, como a Igreja que sucedeu ao Império Romano pelas mãos de Constantino, aos ritos e mitos da Coroa Portuguesa. Não obstante, o país mudou, bem ou mal educou-se e 70% dos eleitores, que são mais da metade da população, têm acesso à INTERNET e redes sociais, considerando-se que 47% deles são pessoas politizadas

No Brasil,  as redes reúnem  67 milhões de  internautas, mais de 1/3 da população,  perto de 70% dos eleitores,  conforme a Hello Research, (FSP,14.12.2012).


Todo mundo sabe e acompanha tudo o que vai pelo mundo: A crise na Europa, a Primavera Árabe, o Outono Turco, a cotação do dólar, a indicação do Papa etc. Veja-se a realidade dos eleitores, sendo que cerca da metade deles já têm nível médio e superior completo:



Este é o novo cenário político do Brasil: Ampliação considerável da cidadania com pleno direito à informação e ao voto. Este o milagre da redemocratização, consagrada pela Constituição de 1988 e que desemboca suas aspirações no espaço público. Tenta as urnas, espera o melhor delas, como nas eleições a Presidente desde 1989, saltando, inclusive de uma à outra opção ideológica. E, depois de 30 anos da inauguração da Nova Republica, demonstra um certo cansaço com a reprodução constante da  cultura política em círculos concêntricos. Claro que  povo brasileiro é inteligente e esperto e, por isso mesmo, começa a se fartar do caráter imperial da vida pública no Brasil. Um dia a Presidente Dilma vai a Roma e se sabe, sem que ela tenha desmentido, que foi acompanhada de um séquito invejável de piedosos cristãos sedentos de ver a posse do novo Papa do alto de aposentos  caríssimos num Hotel de Luxo. Agora sabemos que jatinhos da FAB são usados indiscriminadamente em viagens pessoais do Presidente do Senado, do Presidente da Câmara dos Deputados, do Presidente do STF. Estes jatinhos ficam à disposição de nada menos do que 30 Ministros, a seu bel prazer. Sabe-se, também, que o Parlamento brasileiro é dos mais caros do mundo, sendo o IDH do Brasil, que mede as condições de vida de seu povo, um dos mais baixos. Verdadeira vergonha nacional! Tem-se, também, como certo que funcionários comissionados crescem como erva daninha em todas as instâncias da Federação, com salários de causar espanto à metade da população que, segundo o Censo de 2010, não ganha nem meio salário mínimo. Só na esfera federal somam mais de 20 mil. Todos apaniguados de algum político da Base Aliada, esta verdadeira excrescência que em nome da governabilidade se exaure em regalias. Mordomia, que segundo o dicionário é ofício ou cargo de mordomo, já ganhou um sentido popular como aquisição de bem-estar material e conforto, a partir destas regalias, já identificadas como privilégios de agentes públicos. ( Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-07-05].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/mordomia;jsessionid=75vifBs1qnmT9iJpM-EA2Q__>.)

O povo brasileiro, Presidente Dilma, anseia realmente por uma Reforma Política. De certa maneira, embora esta consigna não estivesse inscrita em todas as bandeiras era ela que informava as grandes manifestações de rua pelo país inteiro. Está correto sintetizar, pois,  pelo imperativo de mudança na cultura política do país, o clamor das praças e ruas. Mas ela não se reduz à perfunctória mudança de procedimentos quanto ao voto ou financiamento de campanha. O grito é de guerra. Guerra a uma cultura política que faz do espaço público um lugar privilegiado a quem nele ascende. O cargo público é um fardo não um farto. De seu postulante ou ocupante se exige uma adequação aos princípios que desde Cícero, passando por Santo Agostinho e Santo Tomaz são cultivados como requisitos da vida pública. Mas isto não ocorre no Brasil. Parece que copiamos a era colonial na qual os cargos eram ocupados por fidalgos leais à Coroa com o só compromisso de jamais trabalhar e na expectativa de “ fazer o Brasil”.
Até quando...?

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