Nesse ano de Copa das Confederações,
agitação estudantil e véspera da Copa do Mundo, a população tem as atenções
voltadas para os acontecimentos políticos.
Aleluia!
Os abusos da classe política foram de
tal monta abertas, com fortes doses de cinismo, que não houve como evitar o
despertar da consciência popular, acordada pelo grito da juventude. Desta vez de maneira espontânea, sem
puxadores de manifestação nem pretensos líderes que manipulam o modo de os
outros pensaram. O habitual “Maria vai
com as outras” desapareceu neste período. Aí está o mérito.
A revolta despertou de um sentimento
contido, reprimido, até onde não se sabe se por incerteza, ou dúvida se cada um
estivesse isolado no seu canto, no seu mundo individual, cercado pela
individualidade de quem tem a certeza de
suas convicções e conclusões, mas que possa passar como louco diante da loucura
comum da maioria que pensa que pensa, mas pensa o que a mídia dominante coloca
na sua cabeça.
Desta vez não. Toda essa massa aparentemente dispersa
estava, cada um no seu vazio, a contestar toda a conjuntura e a ver a
manipulação que os meios de comunicação exercem de maneira distorcida e até criminosa sobre a opinião
pública.
E, nas reflexões isoladas, na visão intuitiva,
a juventude sentiu um grito uníssono diante de um protesto que pareceu isolado
para a bestialidade das autoridades, mas que ecoou em todos aqueles que
pensavam com o próprio cérebro. E via que
as autoridades dos podres poderes não faziam mais que um jogo de cena no abuso
do poder em todos os sentidos: na consideração das reivindicações populares, no
exagero de seus vencimentos e prerrogativas de cargo, no comprometimento com as
classes dominantes financiadoras de suas campanhas políticas, na concentração
de renda, no descaso com a educação, o sistema de saúde, o preço do custo de
vida, os irrisórios salários para quem trabalha, os humilhantes vencimentos
para aposentados e pensionistas, a formação de castas sociais beneficiárias da
concentração de renda – nelas incluídos os titulares dos três poderes.
Imagem: Livramento Diário
Os jovens passaram a ver nas
dificuldades de sobrevivência de seus pais o espelho do que os espera no
futuro.
Sabiamente, partiram para a revolta sem
armas, apesar de terem de enfrentar a polícia armada dos opressores. Tinham consciência de que, em uma luta
desigual, teriam de correr o risco para exercer o seu direito legítimo e democrático
de se manifestarem. Em poucos dias o
fenômeno social se multiplicou e encheu as ruas, avenidas e rodovias do
país. Inimigos das manifestações, muitas
vezes a serviço das forças repressoras, se infiltraram no movimento e
promoveram quebra-quebra para a TV e jornais do sistema terem o que divulgar
como ponto negativo, a fim de denegrir a manifestação legítima. Isto é manjado deste o tempo da Ditadura,
quando seus agentes explodiam bombas terroristas e atribuíam aos “agitadores da
esquerda”.
Os resquícios da Ditadura continuam
sorrateiros, na espreita, a espera do momento oportuno para pôr as mangas de
fora. As balas de borracha têm ferido muita gente desarmada e causado perda do
globo ocular a algum jornalista atingido a esmo. E provocou tiro a queima roupa em uma mulher
sentada, desarmada, em situação passiva.
Imagem:Jefferson Coelho
Jornallista preso por portar Vinagre. Imagem: Notícas Terra
Jornallista detido por portar Vinagre. Notícia Terra
Jornalista detido por portar Vinagre. Imagem: Uol
Jornalista detida e baleada pela Polícia.
Contudo, as manifestações encheram as
ruas do Brasil, menos nas cidades onde a população não desfruta da liberdade
que a cidadania oferece. São os domínios
absolutos do coronelismo, onde cada habitante se sente preso aos olheiros dos
donos dos empregos e dos domínios dos passos de cada um. Pelo número de manifestantes nas ruas, tem-se
a dimensão da liberdade dos habitantes de cada cidade.
Florianópolis(SC). Imagem Visualizador
Ubá. Imagem: Visualizador
Viçosa. Imagem: Ricardo Lopes
Brasília. Imagem: Margareth
Viçosa. Imagem: Murilo Pizato
Juiz de Fora. Imagem: anonymousBrasil
Visconde do Rio Branco. Imagem: Revista Atual
Visconde do Rio Branco. Imagem: Revista Atual
Visconde do Rio Branco. Imagem: Abaixo Rosspção
As autoridades, que já estavam sem
credibilidade, mas enganavam o povo com falsas pesquisas de aprovação popular,
sentem nas vaias e nas manifestações espontâneas nas ruas a máscara cair. E tentam reverter a situação. As propostas de
reforma política, com abertura as decisões populares do plebiscito estão sendo
propaladas. É pouco, mas é um
começo. O povo quer, precisa e tem
direito a muito mais: recuperação do salário mínimo necessário; distribuição de
renda a partir dos 10% mais ricos; sistema educacional de tempo integral com
ensino de conhecimento amplo e favorável ao raciocínio ao alcance de todos;
sistema de saúde de qualidade gratuito abrangente de forma a atender o direito
de todos; capacitação da juventude para o trabalho com habilitação para
remuneração digna; redução dos vencimentos e vantagens dos agentes públicos
compatíveis com o nível de vida da população e a capacidade do erário; redução
da carga tributária conforme a capacidade de rendimento da população de maneira proporcional às rendas de cada um;
criação de um plano habitacional que satisfaça às necessidades de espaço
para cada família, ao seu gosto quanto à forma das construções, à escolha do
lugar e fora das padronizações que formam os atuais guetos de exclusão social e
prejudicam a identidade de cada um; estabelecimento de salário móvel, de acordo
com as oscilações dos preços de mercado, de maneira a evitar os salários
congelados por um ano, diante da liberdade de preços do sistema neoliberal; cuidar
da segurança preventiva, paralelamente ao aperfeiçoamento do sistema educacional
com extensão dos cursos gratuitos até o nível superior; mudar o sistema
eleitoral, desde a formação dos partidos, com participação dos eleitores comuns
nas comissões provisórias e nos diretórios, sem qualquer interferência externa
por atuação direta ou pressão velada; vetar as pesquisas de opinião até a
última semana das eleições; vetar qualquer interferência do poder econômico de
maneira velada, ou ostensiva; implantação do voto físico nas urnas eletrônicas
para possibilitar a recontagem que confirme os resultados digitais; vetar a formação de coligações; concorrer somente os partidos que apresentem
chapa completa; distribuir igualmente o horário de propaganda eleitoral para
todos os candidatos majoritários; do mesmo modo, em cada partido, distribuir o
horário por divisão aritmética entre o tempo disponível por todos os seus
candidatos; estabelecer 2º turno para todas as eleições onde nenhum candidato
alcance mais de 50% dos votos; onde houver 2º turno proibir apoio de partidos
ou candidatos aos dois postulantes, deixando a escolha fora da influência de
líderes, e somente por conta dos eleitores; tornar os crimes de compra de votos
ou qualquer tipo de corrupção eleitoral “crime hediondo”, inafiançável e
imprescritível, tanto para o corruptor quanto para o corrupto; atribuir a todo
eleitor a condição de fiscal eleitoral, com poderes para denunciar fraudes e
impetrar recursos junto à justiça eleitoral, com a dispensa de advogados na sua
intermediação; fixar em cada zona
eleitoral o endereço da Corregedoria da Justiça para facilitar o trabalho dos
fiscalizadores, assim como nas sedes de partidos de maneira permanente para
facilitar a lisura das eleições internas e das Convenções; ação permanente do
Ministério Público e de todo o Poder Judiciário para limpar a vida pública da
presença dos corruptos, fichas sujas, agentes de improbidade administrativa,
dos que tenham contas rejeitas pelos Tribunais de Conta, que não devem ficar
mais sujeitas à confirmação dos julgamentos políticos dos poderes legislativos.
Afinal, a população enche as ruas como
nunca o fizera, pelo esgotamento da paciência, da tentativa da compreensão do
modo de fazer política e de administrar o bem público dos agentes políticos a
serviço das classes dominantes, quando deveria ser do bem comum. Essa contradição de garantir às castas a
opulência, e ao povo o sacrifício, esgotou a boa vontade da compreensão. O povo é condescendente e pacífico. Mas deu
náusea tomar conhecimento de que paga os maiores impostos da América Latina,
para sustentar os políticos mais caros do mundo, e a ostentação de seus
protegidos, na verdade os donos dos seus mandatos.
O povo resolveu jogar para o alto os
frutos da demagogia enganadora dos miseráveis programas sociais: Bolsa-Família,
crédito escolar, casas populares. Sabe
que paga muito caro por essas enganações, e que merece muito mais do que isto.
Sabe que do salário mínimo de seu direito lhe é confiscada mais da terça
parte. E lhe dão somente um quarto que
soa como esmola, conforme os programas sociais que aprisionam, humilham e não
levam ninguém à emancipação.
O povo sabe que quem cumpre uma jornada
de trabalho de oito horas diárias tem direito a casa, comida, educação,
vestuário, higiene, lazer e previdência social, sem favor nenhum. E se mostra indignado quando vê os planos de
casas populares serem lançados como um prêmio, uma dádiva. E, na verdade, construída com dinheiro do
próprio povo e ainda têm de ser pagas em infinitas prestações que duram uma
vida inteira, em condições de desconfortável espaço e sujeitas ao desgaste e à
deterioração do tempo.
Afinal, de todos os vícios e vicissitudes acumulados nesse
tempo de Brasil Colônia, que não perdeu a condição de Colônia Brasil nas mais
variadas formas de República, chegou-se ao ponto em que as filigranas de
equipes econômicas e os falastrões da demagogia perderam a voz. Mada do que dizem faz sentido.
Tudo o que o povo deseja é que, se houvesse jeito, limpar
tudo o que aí está, e entrassem novos atores em cena, passados por um pente
fino, que nada tivesse dos quadros dominantes, dessa estrutura podre de
valores, nula de qualidades.
Ninguém sabe até quando isto é possível. Vamos acreditar, de
início, que a reforma política seja votada com urgência para vigorar nas eleições
de 2014, onde é indispensável eliminar o financiamento privado de campanha e
partidos. Que seja implantado o financiamento público exclusivo de campanha,
acompanhado do fim do voto obrigatório, pai de toda compra e venda de votos.
(Franklin
Netto -
viscondedoriobrancominasgerais@mail.com)
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