segunda-feira, 1 de julho de 2013

Até que enfim o povo dá mais atenção à política do que ao futebol

                            


         Nesse ano de Copa das Confederações, agitação estudantil e véspera da Copa do Mundo, a população tem as atenções voltadas para os acontecimentos políticos.  Aleluia!

         Os abusos da classe política foram de tal monta abertas, com fortes doses de cinismo, que não houve como evitar o despertar da consciência popular, acordada pelo grito da juventude.   Desta vez de maneira espontânea, sem puxadores de manifestação nem pretensos líderes que manipulam o modo de os outros pensaram.  O habitual “Maria vai com as outras” desapareceu neste período. Aí está o mérito.

         A revolta despertou de um sentimento contido, reprimido, até onde não se sabe se por incerteza, ou dúvida se cada um estivesse isolado no seu canto, no seu mundo individual, cercado pela individualidade de quem tem a certeza  de suas convicções e conclusões, mas que possa passar como louco diante da loucura comum da maioria que pensa que pensa, mas pensa o que a mídia dominante coloca na sua cabeça.

         Desta vez não.  Toda essa massa aparentemente dispersa estava, cada um no seu vazio, a contestar toda a conjuntura e a ver a manipulação que os meios de comunicação exercem de maneira  distorcida e até criminosa sobre a opinião pública.

          E, nas reflexões isoladas, na visão intuitiva, a juventude sentiu um grito uníssono diante de um protesto que pareceu isolado para a bestialidade das autoridades, mas que ecoou em todos aqueles que pensavam com o próprio cérebro.  E via que as autoridades dos podres poderes não faziam mais que um jogo de cena no abuso do poder em todos os sentidos: na consideração das reivindicações populares, no exagero de seus vencimentos e prerrogativas de cargo, no comprometimento com as classes dominantes financiadoras de suas campanhas políticas, na concentração de renda, no descaso com a educação, o sistema de saúde, o preço do custo de vida, os irrisórios salários para quem trabalha, os humilhantes vencimentos para aposentados e pensionistas, a formação de castas sociais beneficiárias da concentração de renda – nelas incluídos os titulares dos três poderes.
Imagem: Livramento Diário

         Os jovens passaram a ver nas dificuldades de sobrevivência de seus pais o espelho do que os espera no futuro.

         Sabiamente, partiram para a revolta sem armas, apesar de terem de enfrentar a polícia armada dos opressores.  Tinham consciência de que, em uma luta desigual, teriam de correr o risco para exercer o seu direito legítimo e democrático de se manifestarem.  Em poucos dias o fenômeno social se multiplicou e encheu as ruas, avenidas e rodovias do país.  Inimigos das manifestações, muitas vezes a serviço das forças repressoras, se infiltraram no movimento e promoveram quebra-quebra para a TV e jornais do sistema terem o que divulgar como ponto negativo, a fim de denegrir a manifestação legítima.  Isto é manjado deste o tempo da Ditadura, quando seus agentes explodiam bombas terroristas e atribuíam aos “agitadores da esquerda”.


         Os resquícios da Ditadura continuam sorrateiros, na espreita, a espera do momento oportuno para pôr as mangas de fora. As balas de borracha têm ferido muita gente desarmada e causado perda do globo ocular a algum jornalista atingido a esmo.  E provocou tiro a queima roupa em uma mulher sentada, desarmada, em situação passiva.
Imagem:Jefferson Coelho
Jornallista preso por portar Vinagre. Imagem: Notícas Terra

Jornallista detido por portar Vinagre. Notícia Terra

Jornalista detido por portar Vinagre. Imagem: Uol

Jornalista detida e baleada pela Polícia. 





         Contudo, as manifestações encheram as ruas do Brasil, menos nas cidades onde a população não desfruta da liberdade que a cidadania oferece.  São os domínios absolutos do coronelismo, onde cada habitante se sente preso aos olheiros dos donos dos empregos e dos domínios dos passos de cada um.  Pelo número de manifestantes nas ruas, tem-se a dimensão da liberdade dos habitantes de cada cidade.
Florianópolis(SC). Imagem  Visualizador

Ubá. Imagem: Visualizador

Viçosa. Imagem: Ricardo Lopes

Brasília. Imagem: Margareth


Viçosa. Imagem: Murilo Pizato

Juiz de Fora. Imagem: anonymousBrasil

Visconde do Rio Branco. Imagem: Revista Atual

Visconde do Rio Branco. Imagem: Revista Atual

Visconde do Rio Branco. Imagem: Abaixo Rosspção


         As autoridades, que já estavam sem credibilidade, mas enganavam o povo com falsas pesquisas de aprovação popular, sentem nas vaias e nas manifestações espontâneas nas ruas a máscara cair.  E tentam reverter a situação. As propostas de reforma política, com abertura as decisões populares do plebiscito estão sendo propaladas. É pouco,   mas é um começo.   O povo quer, precisa e tem direito a muito mais: recuperação do salário mínimo necessário; distribuição de renda a partir dos 10% mais ricos; sistema educacional de tempo integral com ensino de conhecimento amplo e favorável ao raciocínio ao alcance de todos; sistema de saúde de qualidade gratuito abrangente de forma a atender o direito de todos; capacitação da juventude para o trabalho com habilitação para remuneração digna; redução dos vencimentos e vantagens dos agentes públicos compatíveis com o nível de vida da população e a capacidade do erário; redução da carga tributária conforme a capacidade de rendimento da população de maneira  proporcional às rendas de cada um;  criação de um plano habitacional que satisfaça às necessidades de espaço para cada família, ao seu gosto quanto à forma das construções, à escolha do lugar e fora das padronizações que formam os atuais guetos de exclusão social e prejudicam a identidade de cada um; estabelecimento de salário móvel, de acordo com as oscilações dos preços de mercado, de maneira a evitar os salários congelados por um ano, diante da liberdade de preços do sistema neoliberal; cuidar da segurança preventiva, paralelamente ao aperfeiçoamento do sistema educacional com extensão dos cursos gratuitos até o nível superior; mudar o sistema eleitoral, desde a formação dos partidos, com participação dos eleitores comuns nas comissões provisórias e nos diretórios, sem qualquer interferência externa por atuação direta ou pressão velada; vetar as pesquisas de opinião até a última semana das eleições; vetar qualquer interferência do poder econômico de maneira velada, ou ostensiva; implantação do voto físico nas urnas eletrônicas para possibilitar a recontagem que confirme os resultados digitais;  vetar a formação de coligações;  concorrer somente os partidos que apresentem chapa completa; distribuir igualmente o horário de propaganda eleitoral para todos os candidatos majoritários; do mesmo modo, em cada partido, distribuir o horário por divisão aritmética entre o tempo disponível por todos os seus candidatos; estabelecer 2º turno para todas as eleições onde nenhum candidato alcance mais de 50% dos votos; onde houver 2º turno proibir apoio de partidos ou candidatos aos dois postulantes, deixando a escolha fora da influência de líderes, e somente por conta dos eleitores; tornar os crimes de compra de votos ou qualquer tipo de corrupção eleitoral “crime hediondo”, inafiançável e imprescritível, tanto para o corruptor quanto para o corrupto; atribuir a todo eleitor a condição de fiscal eleitoral, com poderes para denunciar fraudes e impetrar recursos junto à justiça eleitoral, com a dispensa de advogados na sua intermediação;  fixar em cada zona eleitoral o endereço da Corregedoria da Justiça para facilitar o trabalho dos fiscalizadores, assim como nas sedes de partidos de maneira permanente para facilitar a lisura das eleições internas e das Convenções; ação permanente do Ministério Público e de todo o Poder Judiciário para limpar a vida pública da presença dos corruptos, fichas sujas, agentes de improbidade administrativa, dos que tenham contas rejeitas pelos Tribunais de Conta, que não devem ficar mais sujeitas à confirmação dos julgamentos políticos dos poderes legislativos.

         Afinal, a população enche as ruas como nunca o fizera, pelo esgotamento da paciência, da tentativa da compreensão do modo de fazer política e de administrar o bem público dos agentes políticos a serviço das classes dominantes, quando deveria ser do bem comum.   Essa contradição de garantir às castas a opulência, e ao povo o sacrifício, esgotou a boa vontade da compreensão.  O povo é condescendente e pacífico. Mas deu náusea tomar conhecimento de que paga os maiores impostos da América Latina, para sustentar os políticos mais caros do mundo, e a ostentação de seus protegidos, na verdade os donos dos seus mandatos.

         O povo resolveu jogar para o alto os frutos da demagogia enganadora dos miseráveis programas sociais: Bolsa-Família, crédito escolar, casas populares.  Sabe que paga muito caro por essas enganações, e que merece muito mais do que isto. Sabe que do salário mínimo de seu direito lhe é confiscada mais da terça parte.  E lhe dão somente um quarto que soa como esmola, conforme os programas sociais que aprisionam, humilham e não levam ninguém à emancipação.

         O povo sabe que quem cumpre uma jornada de trabalho de oito horas diárias tem direito a casa, comida, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência social, sem favor nenhum.  E se mostra indignado quando vê os planos de casas populares serem lançados como um prêmio, uma dádiva.  E, na verdade, construída com dinheiro do próprio povo e ainda têm de ser pagas em infinitas prestações que duram uma vida inteira, em condições de desconfortável espaço e sujeitas ao desgaste e à deterioração do tempo.  

Afinal, de todos os vícios e vicissitudes acumulados nesse tempo de Brasil Colônia, que não perdeu a condição de Colônia Brasil nas mais variadas formas de República, chegou-se ao ponto em que as filigranas de equipes econômicas e os falastrões da demagogia perderam a voz.  Mada do que dizem  faz sentido.

Tudo o que o povo deseja é que, se houvesse jeito, limpar tudo o que aí está, e entrassem novos atores em cena, passados por um pente fino, que nada tivesse dos quadros dominantes, dessa estrutura podre de valores, nula de qualidades.

Ninguém sabe até quando isto é possível. Vamos acreditar, de início, que a reforma política seja votada com urgência para vigorar nas eleições de 2014, onde é indispensável eliminar o financiamento privado de campanha e partidos. Que seja implantado o financiamento público exclusivo de campanha, acompanhado do fim do voto obrigatório, pai de toda compra e venda de votos.


(Franklin Netto  -  viscondedoriobrancominasgerais@mail.com) 

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