sexta-feira, 24 de maio de 2013

Praça 28 de Setembro perde, com o tempo, a sua originalidade e beleza



         Desde a criação do Parque Municipal Peixoto Filho, em 17 de outubro de 1909, a Praça central da cidade passou por diversas transformações. Teve seu esplendor quando as árvores tiveram a idade adulta, com as belas palmeiras imperiais bem ao centro, e as várias espécies distribuídas ao redor até a beira das calçadas, frondosas e contribuindo para o cenário bucólico, embelezado por tantos canteiros gramados e floridos, entre os quais havia as passagens que ligavam a área em torno do coreto às laterais.

         Até o início dos anos 60 do século passado o interior do Jardim não tinha calçamento.  O povo convivia bem com aquela situação. As ruas principais que levavam à periferia também eram de chão. Na estiagem, poeira; na época das chuvas, barro.  Quem se acostumava a ir ao Centro, ou ao Largo, como diziam muitos, pisando na terra molhada ou seca, não se importava em passear somente nas calçadas em volta do Jardim.

         Os hábitos da época facilitavam a convivência com a singeleza naquela mistura de um rústico quase rural com aquele aspecto de “missa na Matriz”, o movimento na Estação na hora do trem e as poucas horas da noite com as calçadas, onde os rapazes passeavam por fora no sentido anti-horário, e as moças por dentro, no sentido horário. Dali surgiam flertes, encontros, namoro nos bancos de réguas ou caminhando em passos tranquilos entre os canteiros.

         Frequentar bares era coisa somente para homens.  As moças tinham hora para voltar pra casa, não mais que depois das 10(22 horas).  Os rapazolas iam conhecer a intimidade feminina nas casas de mulheres da chamada “vida fácil”, que tinham liberdade para sair às ruas somente depois das onze horas(23). Era ordem da polícia.

         O cinema servia de opção de lazer cultural para as pessoas solitárias, ou para os namoros escondidos, a depender do tipo de filme em exibição. De segunda a sexta-feira, passavam romances, policiais, faroeste.  Aos sábados, os seriados de aventura, ou de ficção científica, antecedidos pelo jornal da semana - na maioria das vezes defasado pelo tempo – e por histórias de “bandido e mocinho”, muito identificados com público da zona rural e da periferia.  Os domingos eram reservados para os grandes clássicos da Sétima Arte, de temas históricos, bíblicos e lendários, protagonizados por Victor Mature, Humphrey Bobart, Rita Haywort, Sophia Loren, Anthony Quinn, Elizabeth Taylor, Robert Taylor, Lana Turner, Errol Flynn, Bette Davis, Marcello Mastroiani, Burt Lancaster, Rita Hayworth, Katharine Hepburn, Jack Palance e tantos outros que imortalizaram “Êxodos”, “Sansão e Dalila”, “A Bíblia”, “A Caldeira do Diabo”. “Adeus às Armas”, “Cristóvão Colombo”, “Demétrius e os Gladiadores” e tantos deste naipe.

Os prédios das residências,  casas comerciais e instituições públicas da Praça faziam por si só um conjunto harmonioso da arquitetura de uma época que deu status social à cidade, apesar de ter a maioria dos habitantes na zona rural. O neoclássico predominava nas molduras, nas fachadas, nos muros e no marcante balaústre que envolve o adro da igreja matriz, como mensagem silente da filosofia dos iluministas que haviam lutado da maneira como puderam pela liberdade e pelo culto da razão.

         Até os coretos mais antigos tinham o toque artístico daquele conjunto de madeira, cimento e massa que falavam.

         Também pudera!  Não é à toa que Visconde do Rio Branco, o José Maria da Silva Paranhos, era autor da Lei do Ventre Livre, a mais importante e eficaz para o fim da escravidão.  E 28 de Setembro foi a data dessa Lei em 1871; e foi a mesma data para a Lei do Sexagenário em 1885. Ambas, com o tempo, tornariam livres todos os cativos, independente da Lei Áurea que somente fez antecipar em 13 de maio de 1888.

Visconde do Rio Branco e Praça 28 de Setembro simbolizam a liberdade para tirar a mancha do lugar que antes servira de Presídio para presos políticos e criminosos comuns do tempo do Império.

Aquele cenário original tinha uma identidade que ficou maculada, desfigurada, com o prédio da antiga estação rodoviária e a construção de um coreto de alvenaria moderna no seu interior.  Feriram de morte o bucolismo do jardim, o Parque Municipal Peixoto Filho, nos anos 50 e 70 do Século XX.  E, mais recentemente, a derrubada de prédios históricos no entorno da Praça, do lado do Grupo Carlos Soares, para funcionar um estacionamento de carros; do lado do cinema todo aquele conjunto que serviu para cenário de filme de época - e que tinham identidade histórica, para dar lugar a construções desalinhadas, sem limite de altura, e sem qualquer padrão de harmonia, como também atrás da Igreja Matriz, formam um caos arquitetônico que nada tem de moderno e agride o histórico, o tradicional, a imagem da liberdade e da razão.  E ainda se aguarda o que virá depois da derrubada da Casa Telles(Telles & Mesquita) e do Hotel Braga.  Por enquanto, telas de arame estabelecem os limites de seus lotes.

         A paisagem urbana não é mais aquela

         Visconde do Rio Branco mantém o título e perde a nobreza, ao sentir-se impingido a retroceder à condição de Presídio da especulação.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerias@gmail.com)


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