segunda-feira, 20 de maio de 2013

Nepotismo, caldo de cultura das dinastias


      


         O empreguismo de parentes na administração pública como privilégio fora dos concursos legais, é prática comum das oligarquias que procuram perpetuar-se no poder e não sabem viver das rendas do próprio trabalho revelador de suas capacidades individuais, ou familiares.

         A Monarquia acabou há mais de 123 anos. Na sua vigência, as crianças eram educadas para os rituais das cerimônias e exercício do poder.  Passavam para o povo a falsa crença de que eram descendentes dos deuses e, como tais, seus representantes legítimos. E a religião, no caso brasileiro a Igreja, não desmentia e até reforçava a versão. Daí, o silêncio e cumplicidade com os crimes cometidos em nome do Estado e de Sua Majestade, como o genocídio da população indígena, as crueldades nas relações com os escravos e o terror contra os que se posicionavam pela liberdade e pela independência.  Tudo era enquadrado como “crime de lesa  majestade”.  As penas se determinavam por arbitrariedade de “tribunais” atrelados às santas famílias da Coroa. 

         A Inquisição ficou como exemplo macabro dessa cumplicidade Igreja/ Estado. 

         Entre revoltas, sacrifícios e elevação de consciência de alguns segmentos da sociedade, a escravidão acabou oficialmente, o Estado se desmembrou da Igreja, veio a República e a história continuou.  Os grandes proprietários de terra, porém, eram beneficiários das Sesmarias e nelas contavam com a mão de obra barata de ex-escravos e estrangeiros que vieram competir nas vagas de trabalho nas lavouras, nas mordomias e na segurança dos senhores feudais, além de servirem como “eleitores” dos votos a bico de pena, conforme o desejo dos “coronéis”.  Quanto mais terra tinham, mais eleitores e mais poder direto, ou através de seus representantes “eleitos”.  Brasil essencialmente agrícola tinha nos latifundiários suas bases de mando, para a ocupação dos cargos públicos simplesmente burocráticos, e para as funções executivas e legislativas. Não havia um estado constituído.  Havia estado de fato. Os donos dos latifúndios formavam grupos de famílias, às vezes rivais, com o poder girando sempre em torno dos mesmos interesses.  As ocasionais rivalidades não visavam alteração no estado de coisas, no status social. Era mais pela afirmação do “sabe com está falando?”. 

         Também chegou ao fim a República Velha e houve a instituição do Estado, com ministérios, voto direto, legislação trabalhista e Revolução Industrial.  O país saiu da condição de essencialmente agrícola.

         Das sucessivas dependências de Portugal e Inglaterra, caiu na dos Estados Unidos.  Produtos “Made in Ingland” eram substituídos por “Made in U.S.A”.   E uma dívida externa fraudulenta.  O governo provisório da Revolução de 30 fez auditoria nessa dívida e a reduziu para 40% do seu valor de face, com a apuração dos documentos legítimos de suas causas.

         Os vícios, porém, dos votos de cabresto continuaram de município em município, com os currais eleitorais, onde os donos de terra reuniam os eleitores de cada região em terreiros e cobertas dos engenhos e cafezais, com a distribuição de café com leite e pão com salame, e lhes entregavam as cédulas com os nomes dos candidatos desconhecidos pelos votantes, mas preferidos pelos latifundiários.  Era comum a pergunta, depois do sufrágio: “Patrão, em quem foi mesmo que eu votei?”

         O Brasil passou por um período de relativa soberania de 34 anos, durante a qual houve revolução, intentona, estado novo, golpe de gabinete, constituição “democrática”, suicídio político, um golpe de estado patrocinado pelos Estados Unidos, volta do “estado de direito”, eleições, eleições, eleições......

         Só prevaleceu o voto controlado pelas oligarquias, uma forma  republicana da monarquia.  O voto do bico de pena foi  substituído pela compra e pela pressão velada sobre emprego do eleitor, de parentes e amigos.

         Se a Monarquia se perpetuava pelos descendentes da mesma família, da dinastia, as oligarquias se perpetuam pelo nepotismo nas brechas que a legislação permite nomear parentes sem concurso público para cargos de confiança. E os concursados, não raro, trabalham em ambiente às vezes de constrangimento, às vezes transferidos para lugares e situações de desconforto, de pior deslocamento que costumam causar depressão e falta de motivação.

         Já foi dito e tem fundamento: “As monarquias se faziam passar por descendentes dos deuses;  as oligarquias se fazem passar como sendo os próprios deuses”.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

                   

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