sexta-feira, 24 de maio de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - DROPS maio 24 - O CAFÉ NOSSO DE CADA DIA





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O CAFÉ NOSSO DE CADA DIA 


 “Programe a sua homenagem ao café. O dia 24 de Maio precisa ser lembrado em todo o País. O magnífico aroma do café deve envolver as pessoas em todos os lugares e o gostoso sabor do café, encher nossos corações de alegria” (ABIC)
Esta é a mensagem da ABIC - Associação Brasileira da Indústria de Café, que estabeleceu esta data, em 2009,  para celebrar um dos mais característicos produtos brasileiros, historicamente responsável pela transição ao trabalho assalariado, pela imigração italiana , pela urbanização requintada do Rio e São Paulo, pela sociedade aristocrática que iria governar os anos de consolidação da Republica brasileira, numa trama tão excitante quanto complexa e contraditória.  Ainda hoje, o Brasil é  o maior produtor mundial de café  (32,9 milhões de sacas na safra 2005/2006) e maior exportador (26,6 milhões sacas em 2005), sendo o produto consumido por 93% de sua população que constitui o  segundo maior mercado consumidor, com 15,5 milhões de sacas industrializadas em 2005 , graças à ingestão média de 8,1 litros por cada um de nós (2010), número duas vezes maior do que há 40 anos.

Entre nessa comemoração você também!!!

O café, porém, nunca foi bem aceito pela boa sociedade. A primeira cafeteria que se tem notícia foi montada, em Constantinopla, no distante 1475, época em que os turcos ameaçavam invadir a Europa com seu temível exército de janízaros.  Episódio marcante deste contexto foi retratado no filme “A força do Amor”, que reconstitui o drama da entrega da bela e talentosa Verônica Franco , na corte de Veneza, ao fogoso Rei de França, a fim de salvar a cidade dos turcos. Na verdade, séculos se passariam, até o fim da I Guerra Mundial, para que a “ameaça” turca ao Ocidente fosse definitivamente contida. O café turco, porém,  forte, insinuante e convincente se infiltraria, a partir daí sobre a Europa. E mesmo tendo sido proibido na Península Arábica (Meca) em 1511 e em todo o Império Otomano em 1656, seu gosto já se havia imposto entre os ocidentais sendo cada vez mais apreciado, mesmo sob severas restrições. Assim, pois, o café é uma metáfora da própria modernidade. Concebida no mundo muçulmano de onde migra para o Ocidente, aí encontrará seu espaço de consagração.    Na Itália, no início do século XVII, alguns padres pediram ao Papa Clemente VIII, que condenasse o consumo do café. Não tiveram êxito. O próprio papa já o tinha como hábito...

Os britânicos,  foram os primeiros a comercializar o café na Europa. Registra a crônica que seu sabor e aroma fortes exerciam grande fascínio sobre a população, principalmente mais pobre. Estes se obrigavam, pela própria pobreza, ao uso do das folhas de chá por várias vezes durante o dia,  acarretando numa bebida quente, porém sem atrativos, de cor e sabor.   O chá , de cor forte, maior consistência e sabor acentuado  era uma prerrogativa dos  ricos. Com a entrada do café, ele se impôs, com nobreza, ao alcance das classes populares, por aparentar maior superioridade que o próprio chá. Era um símbolo.

Seu consumo, porém,  na Inglaterra,  logo encontrou dificuldades. Havia a crença de que o café era um “licor debilitante” da virilidade dos homens e fator de inúmeras doenças.

Já no ano de 1674, mulheres em Londres promoveram um abaixo assinado contra as cafeterias, lançando um panfleto: “A Petição Feminina Contra o Café”, onde se queixavam que os homens abandonavam suas casas “durante as crises domésticas”, para se divertirem nas "coffee houses", e apregoavam os malefícios da "água suja, nauseante, amarga e escura". Para as inglesas do século XVII o café não passava de um “licor debilitante” que tornava seus maridos “uns inúteis”. A crença de que a bebida trazida do Oriente causava a esterilidade e reduzia o desejo sexual fortaleceu-se na Inglaterra neste período a ponto de o rei Charles II tentar suspender as atividades das cafeterias, um ano após a petição feminina, alegando serem elas focos de revolucionários. Mas, o descontentamento geral provocado por seu decreto foi tão intenso que a suspensão durou apenas 11 dias.

Da Itália e Inglaterra, no século XVII o  consumo do café se alastrou por toda a Europa. Na França,  diz-se que o embaixador da Turquia (Império Otomano) na corte de Luiz XIV ,  disseminou de tal forma o  café em Paris que, por volta de 1669, cafeterias, , dentre elas oCafé de la Regence, ficaram bastante conhecidas como  pontos de encontro de personalidades revolucionárias como Voltaire e Rousseau, e até de conservadores como o Cardeal Richelieu.  Voltaire (1694-1778) deixou até o registro de sua devoção à bebida em várias de suas: "Cândido", "O Dicionário Filosófico", "A Escocesa"
Nos territórios germânicos, o café arraigou-se aos hábitos do povo alemão (que passou a ingeri-lo também misturado ao leite), a partir de 1670 e afirmou-se graças ao monopólio estatal que durou até a Guerra dos Sete Anos (1756-63), mas somente entre as classes mais abastadas. Em 1680, instalava-se em Hamburgo a primeira cafeteria alemã e em 1697, o Conselho da cidade de Leipzig, cidade natal de Bach, proibiu o “uso não autorizado de chá e café”.
Em 1725, época de grande proliferação de composições barrocas alemãs, havia em Leipzig nada menos do que oito Kafeehäuser. Nelas, pequenas orquestras apresentavam-se, unindo a música ao consumo da bebida . J.S. Bach ,, o maior músico de todos os tempos, é um consumidor contumaz do produto e até escreve obra – “Kaffekantate”-  Cantata do Café: http://www.youtube.com/watch?v=UudHMK0Tbuk
Legalize já: 
http://www.youtube.com/watch?v=NkKt4emIZh4 -que faz sua  apologia,  numa época que seu uso era ainda visto com reservas.  E veja-se que Bach  é luterano, tido como austero, mas seduzido pelo café.

Na "Kaffeekantate" ou Cantata do Café, de 1732, Johann Sebastian Bach descreve o conflito entre um pai de costumes rígidos e sua filha entregue a nova mania de ingerir café três vezes ao dia! A obra, que tem hoje a catalogação BWV 211, foi encomendada a Bach por um homem conhecido como Zimmermann, dono de uma Kaffeehaus (cafeteria), em Leipzig, freqüentada pelo compositor e certamente por muitos músicos. O café, na ocasião, era praticamente uma novidade nos reinos alemães e seu consumo combatido por setores da sociedade que acreditavam que o “veneno negro” tivesse a capacidade de causar histeria e esterilidade se ingerido pelas mulheres.
BRANCO, Celso. Cantata do Café - apologia do consumo de um produto proibidoRevista Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 6, Nº1, Rio, 2011 [ISSN 1981-3384] –http://www.tempo.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=5530%3Acantata-do-cafe-apologia-do-consumo-de-um-produto-proibido&catid=210&Itemid=100076&lang=PT

Hoje, o café é consumido livremente no mundo inteiro e suas virtudes são cada vez mais apregoadas. Cafés selecionados, de melhor qualidade e sabor refinado, sem qualquer amargor, são cada vez mais apreciados. São preferidos por consumidores mais exigentes que apreciam o prazer da bebida de qualidade mesmo com preços superiores. Isto estimula os produtores a se orientarem para cultivos controlados, desde o plantio, tratos culturais, colheira, secagem, beneficiamento e torrefação do grão, Aí obtêm grãos especiais que resultam numa bebida mais delicada, embora encorpada, com notas levemente  adocicadas, Trata-se de um café s00% Arábica. O mais valorizado de todos eles é o ‘Café Sumatra,o mais caro do mundo,  retratado no filme  “Antes de Partir” que  mostra um excêntrico  milionário  que aprecia um café muito especial e se admira quando descobre a sua origem: “Kopi Luwak “, de Sumatra.

“Lá, onde os grãos são cultivados, existem os gatos de algalha. Esses gatos comem os grãos, ingerem e depois defecam. Os aldeões coletam e processam as fezes. É a combinação de grãos e sucos gástricos destes gatos que dá ao Kopi Luwak o sabor e aroma que são únicos”.

No Brasil, nosso equivalente é o “Café Jacu”, produzido no  Espírito Santo. Ele é comido por uma ave da região, o jacu, que defeca a semente, que seca junto ao estrume  acaba nos brindando  com uma  verdadeira relíquia gastronômica. Lamentavelmente, a maior parte do café jacu é exportada. Poucos lugares no país a oferecem. Em Porto Alegre, a cada visita que faço, vou ao Mercado Público, que me cobra dez reais pelo prazer de sorvê-lo. Em Brasília, o único lugar onde o encontro é no “Kitinete”, na 209 Sul. Hoje, distante desses dois lugares, contentar-me-ei com o velho e bom cafezinho da DOCEARTE, aqui de Torres.

A um tal prazer, somou-se recentemente, a convicção de que o café faz bem à saúde. Há alguns anos pesquisas demonstraram que ele continha uma substância que prevenia a cirrose.
CAFÉ: HERÓI OU VILÃO?
07/08/06

Recente pesquisa realizada pelo instituto norte-americano Kaiser Permanente, na Califórnia, apontou mais um benefício do café à saúde: a bebida ajuda a prevenir a cirrose alcoólica, doença crônica do fígado que destrói seu tecido e é causada pelo alcoolismo. Além da óbvia boa notícia, o estudo contribui com mais informações para o antigo debate sobre os possíveis benefícios e prejuízos à saúde do consumo do café.
A pesquisa, que reuniu informações de 125.580 pacientes sobre o consumo de café, álcool e chá, entre 1978 e 1985, e as comparou com registros seguintes de casos de cirrose nos mesmos pacientes, mostrou que quanto maior a quantidade de café ingerida, menores as probabilidades de desenvolvimento da doença. O consumo excessivo de álcool por longo período é a causa mais comum de cirrose nas sociedades ocidentais (na China e em outras partes da Ásia, o vírus de hepatite é a mais comum).
Darcy Lima, professor do Instituto de Neurologia da UFRJ, vai além: "O remédio usado para tratar alcoolismo é um antagonista opióde de nome genérico naltrexona. Ele bloqueia a vontade de beber. E o café possui antagonistas opióides naturais - as quino-lactonas formadas durante a torra", diz. "Quem toma mais café, bebe menos e tem menos depressão", afirma ele, que possui a patente mundial de um fitoterápico de café com um Laboratório nacional, que está prestes a ser lançado.

Mais recentemente, 2010 e 2011, outros estudos demonstram que o café faz bem também ao diabetes e que tem forte poder anti-oxidante, retardando o envelhecimento celular.

Milhares de pessoas no mundo todo tomam ao menos uma xícara de café todo dia. E para a felicidade dessas pessoas, um novo estudo mostra que o café contém uma série de nutrientes (como o cálcio) assim como diversas substâncias ativas, como os polifenóis, que contribuem para a saúde. Determinar se essas associações são causais, entretanto, requer mais pesquisas.
    http://oqueeutenho.uol.com.br/portal/2010/04/27/estudo-mostra-novas-evidencias-dos-beneficios-do-cafe/

Gostoso, relativamente barato, bom  para a saúde,  simbolicamente expressivo da modernidade, o café, pois, merece nosso aplauso e merece ser celebrado no seu dia nacional.

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