terça-feira, 21 de maio de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops maio 21 - OS SENHORES DOS ANÉIS



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                             OS SENHORES DOS ANÉIS

 

Falar mal de ricos ou até mesmo milionários, amaldiçoá-los e desejar-lhes o pior,  não faz meu gênero. Costumo até explicar aos mais radicais aqui onde moro – Torres/RS , indignados com o fato de que a grande maioria das mansões e apartamentos permanecem fechados durante o ano inteiro, à espera do veraneio, quando os gaúchos desabam sobre o litoral, que pior seria não tê-los por aqui. Ruim com eles , pior sem eles... Ou como ironizava um velho liberal, Roberto Campos:

 

 - “Pior do que a exploração capitalista, só a falta de exploração capitalista”.

 

 E apontava a África...

 

Mal sabia ele que este continente está sendo loteado, hoje, inclusive pela China comunista, como reserva de solos férteis e minerais estratégicos para um futuro muito próximo.

 

 Digo isto – da minha tolerância frente à riqueza e até frente ao luxo - não por impulso. Emocionalmente eu gostaria de pendurar os ricos nos postes da indignação.  Pessoalmente, sou um homem da minha idade, com hábitos morigerados. Mas porque aprendi a lidar com eles como protagonistas sociais. Isso me aconteceu ainda muito jovem, quando tive a honra de entrar para os quadros do velho Partidão. Fabinho, com quem partilhava o “aparelho”, na velha Demetrio Ribeiro- POA -, idos de 64/68 , um comunista visceral, como já disse várias vezes, tinha uma paciência enorme comigo. Me ensinou as primeiras letras da verdadeira Condição Humana, não faltando a exigência de que eu lesse o romance com este título de Malraux. Eu era um católico preocupado com a pobreza e com a injustiça social no mundo. Ele, pacientemente,  insistia:

 

“-Não adiante ter raiva de  ‘quem tem’. Ou querer vingar-se socialmente neles. Nós, comunistas, temos que entender a injustiça à luz da razão. Eles cumprem papéis, que sequer entendem. Nasceram e morrerão ricos, milionários. Temos que entender a diferença entre ódio de classe, que é um sentimento pequeno burguês, e consciência de classe, que é o entendimento marxista.

 

Fabinho morreu, supostamente pelos algozes da ditadura. Deixou-me a lição. Evito ódios de classe...Mas ontem, vendo na TV Cultura o documentário americano  QUEM ROUBOU O SONHO AMERICANO - www.yourfilmtrailers.com/pt/.../heist+who+stole+the+american+dream.ht...-


, tive uma recaída. Morri de ódio. Ódio de classe...

 O Diretor mostra como os Governos Reagan e Clinton (!!!), apoiados pelos técnicos do Federal Reserve e outras instituições, todos enfeitiçados pela mística do mercado, arquitetaram o desmantelamento do Estado de forma a permitir o grande saque que  viria a ocorrer na virada do século-milênio, sob os auspícios do “Consenso de Washington”.  Os procedimentos, os números do roubo que enriqueceu alguns poucos em detrimento da miséria de milhões de pessoas nos Estados Unidos e no mundo, os depoimentos, são indescritíveis. O pior resultado de tudo isso não foi apenas a Crise de 2008 que ainda avassala a Europa. Foi o fato de que os ricos ficaram ainda mais ricos na crise. Os cem mais ricos do mundo ampliaram consideravelmente suas fortunas em 2012 


Estão tão ricos que até iniciaram um movimento de doação de partes de seus impérios financeiros para a saída da crise...  E o processo ainda não se esgotou. Já preocupa até a Presidente do FMI que ontem declarou que 0,5% da população do mundo controla 35% de sua riqueza.

 dedicado a la lucha contra la pobreza. Movimientos sociales, sindicatos y partidos de izquierda catalogaron como paradójico que la directora de este organismo internacional ofrezca una charla sobre este tema ya que las políticas neoliberales que impone el FMI en distintos países del mundo generan altos índices de desempleo, miseria y desigualdad social.

Durante los años 80, las medidas del FMI en América Latina desencadenaron una de las etapas más oscuras de la historia del continente: Los ingresos se desplomaron; el crecimiento económico se estancó, el desempleo aumentó a niveles alarmantes y la inflación redujo el poder adquisitivo de la población. Esta época fue conocida como “la década perdida” o la “larga noche neoliberal”.

Hoy los pueblos del sur de Europa están sufriendo drásticos recortes sociales impuestos por la llamada “Troika”, conformada por el Banco Central Europeo (BCE), la Comisión Europea (CE) y el propio FMI.
Las políticas fijadas por estos organismos han llevado a que la Eurozona bata récord de desempleo (12,1 por ciento) y que el paro juvenil en países como España o Grecia supere el 50 por ciento.

Quando até a autoridade maior do FMI se diz preocupada com a concentração de renda no planeta, é de arrepiar. Já os sentimentos não cabem na moldura da consciência de classe, tal como me ensinava o Fabinho, e transbordam para os baixos sentimentos.
Pior, os ricos não apenas concentram a riqueza. Concentram os recursos do planeta. Ano passado o LE MONDE (ago/08) apresentou os seguintes dados:

- 4/5 do consumo global (76,6%) é realizado pelos dois décimos mais ricos;

- o décimo mais rico é responsável por quase 3/5 do consumo (59%).

- as taxas de crescimento dos mercados de luxo sempre superam as demais,
tanto em fases de expansão, quanto nas de retração global.

Ver também o *Worldwide Luxury Markets Monitor*

mantido pela Fondazione Altagamma: http://www.altagamma.it

Mas além de concentrar a renda e os recursos, os mais ricos acabam, também controlando  os recursos públicos, em decorrência do grande endividamento dos Estados no mundo inteiro. Não pagam impostos e ainda embolsam os impostos que as classes médias e trabalhadoras pagam. Os detentores de recursos líquidos, são compradores dos títulos e, consequentemente dos juros destes títulos. O caso brasileiro é exemplar. Grande parte do Orçamento da União se destina ao pagamento de títulos e rolagem da dívida. E quem aplica em títulos? Investidores privados, através dos Bancos e Fundos de Investimento:

(Ver quadro em DROPS, clicar acima)

Fonte : Os Detentores da Dívida Pública – Valor 10 out. 2011- Angela Bittencourt

As grandes fortunas se multiplicam numa velocidade assombrosa, como se fosse um game, ao apertar de botões que movimentam contas hiperbólicas nos quatro cantos do mundo , 24 horas por dia, graças à eliminação de controles nas fronteiras eletrônicas. Todo esse capital vai se acumular nos Paraísos Fiscais, escondendo-se do Fisco e outros controles. O cassino não para nunca, enquanto a Crise se agrava, o desemprego e, principalmente o desespero se acentuam, e a fome alcança um bilhão de almas. O buraco negro da voracidade financeira devora tudo, todas as energias do Planeta, em nome da Livre Iniciativa e do Mercado Livre:

A revelação foi feita neste domingo por um estudo inédito, que pela primeira vez chegou a valores depositados nas chamadas contas offshore, sobre as quais as autoridades tributárias dos países não têm como cobrar impostos.
O documento The Price of Offshore Revisited, escrito por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, e encomendado pela Tax Justice Network, mostra que os brasileiros muito ricos somaram até 2010 cerca de US$ 520 bilhões (ou mais de US$ 1 trilhão) em paraísos fiscais.
O estudo cruzou dados do Banco de Compensações Internacionais, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e de governos nacionais para chegar a valores considerados pelo autor conservadores. Em 2010, o Produto Interno Bruto Brasileiro somou cerca de R$ 3,6 trilhões.

Enorme buraco negro

O relatório destaca o impacto sobre as economias dos 139 países mais desenvolvidos da movimentação de dinheiro enviado a paraísos fiscais. Henry estima que desde os anos 1970 até 2010, os cidadãos mais ricos desses 139 países aumentaram de US$ $ 7.3 trilhões para US$ 9.3 trilhões a "riqueza offshore não registrada" para fins de tributação. A riqueza privada offshore representa "um enorme buraco negro na economia mundial", disse o autor do estudo.

Na América Latina, chama a atenção o fato de, além do Brasil, países como México, Argentina e Venezuela aparecerem entre os 20 que mais enviaram recursos a paraísos fiscais.

John Christensen, diretor da Tax Justice Network, organização que combate os paraísos fiscais e que encomendou o estudo, afirmou à BBC Brasil que países exportadores de riquezas minerais seguem um padrão. Segundo ele, elites locais vêm sendo abordadas há décadas por bancos, principalmente norte-americanos, pára enviarem seus recursos ao exterior.

"Instituições como Bank of America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm ofrecendo este serviço. Como o governo americano não compartilha informações tributárias, fica muito difícil para estes países chegar aos donos destas contas e taxar os recuros", afirma. "Isso aumentou muito nos anos 70, durante as ditaduras", observa.

Ora, isto não tem nada a ver com Lei dos Mercados, Livre Iniciativa ou Capitalismo. E , aqui, o espectro do Fabinho, de novo: - O capitalismo é um modo de produção que se baseia não no roubo, pura e simples, mas na produção de mercadorias por meio de mercadorias, através de conversão da força de trabalho  também em mercadoria, que se troca pelo seu custo de subsistência. Daí a acumulação.Os lucros. Os investimentos. E o caráter dinâmico da burguesia.”

Ora, Fabinho, não viveste para ver. Morreste para viver. Mas se visses hoje o que aí está, certamente dirias que capitalismo não é. Trata-se de um retrocesso histórico às fases mais primitivas da formação da sociedade econômica. E sob o império do Direito...

 Lembro-me , pois, em plena recaída de consciência e tomado pela pura e simples indignação, daquela velha indagação:

                     “Qual o crime maior: Fundar um Banco ou roubá-lo?

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