segunda-feira, 20 de maio de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops maio 20 - COLUNA MÉDICOS CUBANOS



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COLUNA DO TIMM 
 COLUNA MÉDICOS CUBANOS 
"...a gente morre é para provar que viveu."
Guimarães Rosa

 Meu amigo Jesualdo Correia, filólogo, orientalista, um pouco poeta,  ensina-me  sobre neologismos:

Petrichor... ou pluvisoloichor... ambos neologismos ( o primeiro inglês, o segundo português, recentissimos ) que significam o aroma que exala da terra com a chuva que advém após longo período de secura. Ichor (χώρ ) em grego antigo significava o aroma-nectar contido nas veias dos deuses e já em Homero encontra-se numa passagem do Ilíada. Mas o que realmente importa é a coisa em si ( Kant que me desculpe a apropriação ôntica ), o extasiante e revigorante incenso-aroma que exala fortemente das pedras, folhagens e da terra, imediatamente após o impacto da chuva sobre o solo, após a estiagem. Inebriante, revigorante, pratyakshico.

Ah! Que bom se pudéssemos atravessar os dias sempre embriagados com o néctar das ideias novas, palavras novas, situações inusitadas.  O espanto. O encanto. Até a morte, como prova de como vivemos.  E nós, em corpo, alma e espírito, reagindo a tudo isso. .  Mas o quê...? Não somos apenas corpo e alma? Bem...Há controvérsias. Em algumas culturas o homem tem até sete partes constituintes. Em outras apenas uma, onde se funde inexoravelmente com a natureza. Na tradição judaico-cristã, apenas corpo e alma embora com sinais trocados. Para os judeus a alma é imoral, o corpo conservador. Nós, cristãos, herdeiros do medievalismo, tememos mais a tentação do corpo do que da alma. E mesmo acreditando-nos feitos “a imagem e semelhança de Deus”, “em si” constituído como Pai, Filho e Espírito Santo, deixamos a terceira dimensão ôntica pelo caminho...

Uma pena! Pois é  precisamente na dimensão do espírito que reside a esperança da redenção humana. Mas ainda guardamos do percurso uma expressão interessante: espírito crítico. E é com ele e não com os corpos e almas encharcados de interesses, preconceitos e ilusões que podemos apreciar o caso da vinda de médicos cubanos para exercerem suas funções em áreas carentes destes profissionais.

O primeiro erro foi do Governo, que colocou uma proposta de solução para a falta de médicos no interior do Brasil,  antes de uma prévia discussão do problema. Alguém já disse que uma das principais lacunas da razão é, simplesmente, a falta de jeito. Sabendo do peso da corporação dos médicos na sociedade brasileira o Governo deveria ter tido mais habilidade na proposição da “solução cubana”. Agora procura contornar a controvérsia criada com a vinda dos cubanos com o encaminhamento, junto à OMS, da possível vinda de médicos espanhóis e portugueses, os quais ficariam, por dois anos dispensados da revalidação de seus diplomas. Claro que, o que vale para Dom Pepe e o Senhor Manuel, valerá também para os cubanos.

A alma passionária da esquerda nacional, entretanto, não quer nem saber de tecnalidades. Se são cubanos, que venham. A esquerda, sempre que lhe convém, tem um desprezo cabal às minudências legais. Ultimamente, então, generalizou-se um sentimento de que a Justiça está a serviço do conservadorismo e até mesmo a judicialização da Política, que tem sido um instrumento importante à conquista de direitos sociais e de minorias, está na berlinda.

Eis aí o conflito do Corpo (corporativo) Médico com a Paixão, à espera de que o assunto da carência de médicos no interior, problematizado, seja capaz de ser politicamente encaminhado.
Não é o que estamos vendo. Pelo contrário. As posições estão se exaltando e, do jeito que vão se desenrolando, dificilmente o Governo conseguirá impor sua solução.

E aqui o segundo erro do governo: timing. Também decisivo à falência da “sua” razão. Como de qualquer outro, filósofo ou não, que pretenda detê-la, não o tendo.  Se a questão, trazida à borda do tempo como problema, deve ter uma solução, ela também, tem seus prazos. O tempo da sociedade, apesar do famoso slogan de JK –“ Vamos fazer 50 anos em 5” – é diferente do tempo dos mandatos políticos.  A se ter de trazer médicos do exterior para regiões carentes, isto deve ser feito prevendo-se um período de aclimatação. Ao país, à língua, aos costumes, à Lei. Neste período de adaptação, uma espécie de residência, a ser feita em Hospitais, obedecendo as regras hoje existentes para os demais residentes, os médicos do exterior poderiam receber um Alvará Provisório, até a aprovação em Exames de Revalidação de seus diplomas. Este Alvará, regulamentado por Lei Federal, com Prazo definido, deverá ser expedido pelos Conselhos de Medicina, afim de se evitar o confronto com a corporação. Este procedimento poderia, inclusive, levar a uma revisão da questão das Residências Médicas no Brasil, visivelmente mal pagas, insuficientes para uma verdadeira especialização médica, inconsistentes com o estatuto vigente dos estudos de  Pós-graduação.


Quanto à paixão pela Revolução Cubana, pelas suas realizações no campo da medicina, pela vinda de médicos cubanos: Cuidado! Ela nem sempre é boa conselheira para ações que ultrapassam o campo da Política e invadem o da Administração Pública, toda cheia de regras, regulamentos e exigências. Não basta o ardor da causa para enfrentá-las. Melhor a prudência, que é o olho das virtudes. Nem adianta cantar em verso triste as mazelas da insuficiência da medicina no interior do país. Ela não se coaduna com as imagens de estádios luminosos recém inaugurados. É muito provável que as exigências de melhores serviços médicos em áreas carentes do Brasil dependam muito mais de prioridades governamentais do que da falta de recursos públicos. Ou de médicos.

Junto com tudo isso, o aplauso à vinda de mais estrangeiros à Terra da Promissão. Somos um povo que se orgulha de bem receber – e digerir – a todos que aqui chegam.

Bem Vindos ! Na forma da Lei, não como paliativo, sujeito a deixar, na sua saída o mesmo e eterno problema, mas dentro de um Programa de Consolidação do SUS no interior do país. 

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