terça-feira, 30 de abril de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - DROPS ABRIL 30




 DROPS ABRIL 30 -  





Guimarães é  - e sempre será ! – notícia.



"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens." Então, Guimarães é notícia em destaque?Por quê...?


Aconteceu alguma coisa? Ganhou o Nobel de Literatura Post Mortem? A patrulha descobriu que ele era racista,  homofóbico, ou vice versa?


Nada disso, apenas Guimarães – eterno - e uma resenha ao léu no Blog do Milton Ribeiro, que não resisti a comentar. Daí a cobrança dele por esta aventura  que se segue: Falar sobre o maior autor moderno do país. Aquele que ultrapassou o modernismo e o regionalismo para entronizá-los na literatura mundial, com a mesma envergadura de “Cem Anos de Solidão”. Talvez mais original, mais ousada. Advirto o editor: -Não sei nada de literatura, a não ser como leitor.  Penso comigo: - Devorei a “Biblioteca Lar Feliz” que minha mãe, professora primária em Santa Maria, guardou com tanto zelo, até morrer. E havia outra coleção: “Terremarear”... Como esquecer esses nomes todos? Mas, curiosamente, lá não havia muitos clássicos. Até hoje não li sequer um livro de Shakespeare. Conheço-o, como diria Machado, de vista e de chapéu. Ainda assim , pra mó de me compreenderem e saibam que “ Soletrei meante cartilha, memória e palmatória.”  No Cícero Barreto e Colégio São Luiz, em Santa Maria, anos 1950/53. E o fiz até cansar, porque era  muito fraquinho, não dava pra esportes coletivos, mal brincava na rua. Sempre escutando minha mãe: ” Acho que esse menino não dura, já está no blimbilim”.


 Mas Milton me anima: - Trata-se de depoimentos, fã clube!


Levo medo. “Abriu em mim um susto.Mal haja-me!”  Afinal respondo:  :“Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em falso receio , desfalam no nome dele – dizem só : o Que diga.”


“Parece até que ficou o feliz, que antes não era...”


Pois assim funciona o Guimarães, pra mim:  Como um desencontro de palavras  que escorre em melodia, como a fala de todo mineiro. Outra lógica.


Decididamente, me retombo como água caindo em cachoeira. E me vou, retórico, vaidoso e despido de vergonhas a caminho da crônica, embebido de diadorices .


Grande Sertáo, Veredas foi o melhor romance que li:  Lhe digo, à puridade.- Pois não sim...?”A primeira vez, na juventude - e não consegui entender nada. Nem o título. Sertão, pra mim, ficava no Nordeste do país: “Vidas Secas”, “O Cangaceiro”, “O Pagador de Promessa”. Glauber, “Os Retirantes”. Guimarães não é minero?  perguntei ao Fabinho, um de meus gurus, comunista visceral, com quem repartia o verdadeiro “aparelho”na Demétrio Ribeiro, 1094. Meados da década de 60. Aliás, outro cadáver da ditadura. Homenagem. Ele me disse que sim, mas não explicou mais. Tudo é e não é...” Passei décadas sem voltar ao livro. Mas, perto dos 60  anos, fui morar nos ermos de Goiás: Olhos d ‘Água. Afinal, um homem nessa idade “ carece de aragem de descanso. Solito e Deus. Cuidando de plantar mandioca, cuidar das galinhas e fazer poesia. Cansado de guerra!


“Sofro pena de contar não....Melhor se arrepare: pois , num chão , e com igual formato  de ramos e folhas, não dá a mandioca mansa, que se come comum, e a mandio-brava, que mata?


 Lá convivi com muitas gentes oriundas das Gerais, pessoas simples, rudes e sábias.. E também com um mineiro, meu senhorio, Betão, de Cordisburgo, cidade de Guimarães, cujo pai havia sido dele colega. Eu lhe ensinei a tomar chimarrão nas madrugadas, ele me devolvia com mineirices.  E susseguinte...sem remediável,” percebendo a maneira curiosa de toda aquela gente pensar e falar, ocorreu-me voltar ao “Grande Sertáo”.  Pois “ponho primazia é na leitura – eu gosto muito de moral- ajudo com meu querer acreditar. De sorte que carece de se escolher. Que no causo, é reler com o jeito, agora, de poder entender. Porque aprendi com aquela gente do Planalto Central,  que o excesso de argumentos e a falta de jeito  falecem a razão. Que redescoberta! Comecei a entender tudo. Há sertão nas Gerais, um sertão misterioso e encharcado durante as águas, que são abundantes;  há uma filosofia popular profunda entre mineiros e goianos (estes, dizem, mineiros fugidos depois de matar alguém...)  Hoje, Grande Sertão,  é um dos meus livros de cabeceira. Vez por outra roubo-lhe uma expressão. Ou um parágrafo inteiro – aí cito…-. E coisa incrível: Oferecendo-me para ler em grupo com algumas pessoas o livro, aqui em Torres, descobri duas mulheres devotas da obra, uma psicóloga, Angela, a outra Professora, Vera. Nem precisou reler o livro com elas. Elas o sabiam melhor do que eu… Coisas deste mundo que ninguém, nem o mais o desinquieto  , desentende…. “Só um e outro, um em si juntos. O viver em ponto sem parar (consegue). Coração-mente. Pensamento. Avançam parados dentro da luz.” Parece que aqui, mesmo com o mar a tiracolo, com a Serra Geral subindo ao longe, também tem sertão...Pois ele está é dentro da alma de cada um de nós... 

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