segunda-feira, 18 de março de 2013

Milinho, uma saudade e muita história


        

         Entre outras pessoas estimadas que faleceram no último fim de semana, Milinho merece um registro especial, pelo que tentou, ensinou e trabalhou na vida cultural do Município.
        
         Desde os tempos quando regressou do Rio de Janeiro, sua paixão pela cultura e pela arte se fez notar, já nos anos 50 do Século Passado, ao assumir a direção artística da Rádio Cultura Rio Branco. Criou e apresentou o programa “No Mundo da Música”, de 11:30 ao meio dia.

Sua divulgação tinha grande interesse pela cultura e acha que o povo precisava conhecer as músicas dos mestres de todos os tempos, e tocava óperas e sinfonias dos internacionais Léonin; Pérotin; Bach;Häendel;Telleman;Scarlatti; Haydn;Mozat; Mendelsson; Beethoven; Chopin; Liszt; Grieg; Ravel; Bizet; Debussy; Brahms; Schumman; Schubert; Scriabin; Prokofiev; Rachmaninoff; Tchaikovsky; Mossakovsky; Moskovsky; Ginaestera; John Willians. 

De cada obra contava a história com palavras simples na tentativa de fazer o povo entender e gostar. Pouco lhe importava a audiência.  Era um idealista que procurava fazer aquilo de que gostava e acreditava que faltava divulgação da música de qualidade para alcançar as camadas mais simples da população.

Dos nomes nacionais, dava importância a Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth; Villa-Lobos e Carlos Gomes.

Àquele tempo não havia Chico Buarque; Tom Jobim; Toquinho; Baden Powell que, para os dias de hoje, podem se enquadrar entre clássicos populares, mas não, necessariamente, eruditos.  Parece que os especialistas no assunto separam clássico de erudito, dando à erudição um sentido mais profundo de músicas que tenham vencido séculos e milênios, nascidas da inspiração de compositores considerados gênios, cada um único no seu estilo e perfeição.

No seu amor pela arte, Milinho organizou e conduziu peças teatrais, com amigos amadores, a exemplo de O Diletante e Judas em Sábado de Aleluia, comédias de Martins Penna, apresentados em palco no Aero Clube, e no Bairro de Lourdes. Fez dos amigos e amigas atores e atrizes, como Luiz Violão, Ilnéia Cacilhas, João Coutinho dos Santos, Altino Osvaldo
e o próprio Milinho.

Como diretor da Rádio Cultura, preparou muitos locutores, com exercícios de colocação de voz, em uma persistência incansável, acompanhada de muita paciência.  Perseguia de maneira determinada a perfeição de cada um.  Apesar de jovem, era dotado de elevada capacidade intelectual.  Mas na convivência amistosa revelava intensa humildade como quem quisesse deixar todos à vontade, sem qualquer constrangimento.

Foi professor de História  e diretor do Colégio Municipal Rio Branco. De sua passagem por aquele educandário, tornou-se referência para todos os seus alunos que dizem sempre ter aprendido com muita lição de vida, além da matéria professada. 

Com seu físico frágil, tinha também uma voz frágil, um tanto presa na garganta.  Mas muito afinada.  E com desembaraço contava tangos e boleros em castelhano, e alguma canção napolitana em perfeito domínio italiano.  Também gostava de cantar música brasileira de raiz, ou alguma “dor de cotovelo” romântica do repertório boêmio.  Uma de suas preferidas era “A noite do meu bem”, de Dolores Duran.  Entretanto, ficou marcante na sua voz a “Casa de Caboclo”  (Heckel Tavares e Luiz Peixoto) – composta em 1928 , apesar do desfecho dramático de sua letra, arrancou gargalhadas da platéia em uma apresentação no Cine Brasil, com o seu final: “Numa casa de caboclo, um é pouco, dois é bom, três é demais”. 



Milinho, o Valdomiro Vianna Filho, o amigo que o tempo levou, mas que fica em nossa saudade, com toda a simplicidade, com tanta cultura, com tanto talento que viveu aprendendo e ensinando, sem qualquer ambição de vaidade pessoal.   Este é um vazio que não se preenche, porque Milinho foi único. A ninguém imitou. E ninguém o imitará.  Forte personalidade que deixou muitos amigos e um sem número de admiradores.  A cultura e a arte de Visconde do Rio Branco ficaram menores. E a sua lembrança será eterna! 

Milinho Vianna, entre o Sr. Manoel Aguiar e o Prefeito Joaquim Cardoso - Anos 60. Imagem: Getúlio Teixeira de Aguiar


Um comentário:

  1. Em 19 de março de 2013 08:10, Gustavo Soares Sabioni escreveu:
    Caro Franklin,
    VRB ficou mais triste na semana passada. Gostaria de acrescentar na biografia do Milinho que, este também foi professor de História na Escola Estadual Dr. Celso Machado, tive o privilegio de ser seu aluno entre 73 e 74,
    abcs
    Gustavo

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