quinta-feira, 28 de março de 2013

Falta de Educação gerou a criminalidade


    


      Há mais de 20 anos, víamos nas ruas de Visconde do Rio Branco crianças abandonadas, às vezes em noites de chuva, ou durante o dia vagando a esmo, de maneira perceptível de que não tinham pais ou tutores que lhes cobrassem presença em casa para a convivência em família, ou para a realização de tarefas escolares, os conhecidos “deveres de casa”.

         Sabíamos que aquele quadro lastimável era um retrato do Brasil do fim do Século XX, para o qual os governantes viravam as costas.  Pelos meninos conhecidos no nosso próprio município, dava para se fazer uma previsão de qual seria o seu futuro. Naquele tempo, as próprias escolas já passavam pela infiltração de agentes do narcotráfico que procuravam atrair e corromper as mentes e a conduta dos estudantes, sobretudo os que se destacavam como expoentes de inteligência avançada, revelada no bom desempenho das matérias ministradas. 

         A Ditadura Militar que chegava ao fim por esgotamento em si mesma havia cumprido sua missão de tirar o país dos rumos da soberania nacional e da emancipação econômica sonhada e perseguida pelos brasileiros que os golpistas depuseram, cassaram, prenderam, arrebentaram, mataram, exilaram e aniquilaram.

         A Ditadura explícita espirava-se também, e principalmente, por determinações vindas de fora, das mesmas fontes que patrocinaram o Golpe, com apoio logístico, financeiro e até de esquadras posicionadas na costa marítima brasileira, para invadir o território e atacar, caso a população resistisse ao golpe.

         No entanto, a Ditadura tinha um propósito que ia além de sua existência:  criar quadros dentro de um regime aparentemente democrático, que dessem continuidade ao processo de entrega da soberania e da riqueza nacionais aos domínios externos de caráter imperialista.  Isto  implicava também em evitar o surgimento de novas lideranças que poderiam emergir dos bancos escolares, com o ímpeto do que fora a UNE – União Nacional dos Estudantes.  Teriam então que destruir o sistema educacional no que tivesse de pedagogia avançada e eficaz, que pudesse libertar um povo pelo conhecimento de seus valores.  Para tanto, precisaria também desmontar o quadro docente na desqualificação e no desestímulo dos seus profissionais.  E tornar o ensino  um sistema onde os jovens poderiam entrar, passar e concluir sem saber.  Todas as medidas teriam que conduzir a um processo de desqualificação intelectual e cognitiva das gerações seguintes.  A falta de motivação da juventude pela escola era simplesmente uma consequência natural. 

         Paralelamente, continuava a marcha do arrocho salarial, a agravar as questões sociais, de maneira a colocar pais e mães a trabalharem fora na tentativa de cobrir uma parte das necessidades de toda a família. Esse clima, essa busca, essa ansiedade tornaram-se ingredientes fortes para  a dissolução de lares.  E as crianças abandonadas foram resultado inevitável.

         O imperialismo internacional arregimentou candidatos a governantes nos seus moldes, para imposição das políticas sócio-econômicas recessivas e entreguistas, e os congregou no famigerado Consenso de Washington, para toda a América Latina, onde as ditaduras militares recebiam determinações de entregar o poder à sociedade civil.  Do Brasil, subscreveram o Consenso nomes que brotavam na cena política associados ao partido ditatorial ARENA e alguns oportunistas que antes se mascaravam de socialistas.

         Os meninos de rua tornaram-se produtos desse estado de coisas em todo o país.

         Dos que voltaram do exílio, Leonel Brizola despontou e conquistou o governo Estado do Rio de Janeiro em 1982, contra a vontade dos grupos dominantes. Ele e Darcy Ribeiro faziam parte de 1.000 brasileiros que haviam tentado emancipar o país antes do Golpe.  Brizola Governador, e Darcy Secretário da Educação, idealizaram os Centros Integrados de Educação Pública-CIEPs e lançaram um plano ousado de implantar 500 unidades naquele estado. 

 

            “Implantado inicialmente no estado do Rio de Janeiro, no Brasil, ao longo dos dois governos de Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1994), tinha como objetivo oferecer ensino público de qualidade, em período integral, aos alunos da rede estadual.

O horário das aulas estendia-se das 8 às 17 horas, oferecendo, além do currículo regular, atividades culturais, estudos dirigidos e educação física. Os CIEPs forneciam refeições completas a seus alunos, além de atendimento médico e odontológico. A capacidade média de cada unidade era para mil alunos.

O projeto objetivava, adicionalmente, tirar crianças carentes das ruas, oferecendo-lhes os chamados "pais sociais", funcionários públicos que, residentes nos CIEPs, cuidavam de crianças também ali residentes.”(pt.wikipedia.org).

        Enquanto Brizola estava na vida ativa, os legisladores desaprovavam a reeleição. Os seus sucessores, em um mandato e em outro, sempre a serviço dos grupos dominantes, destruíam aquelas escolas e acabaram por tornar alguns prédios em esqueletos abandonados.  Os que sobreviveram, regrediram ao estágio de escola comum, de turno único.

        Se aquele plano tivesse ido adiante, cada município do Brasil poderia ter pelo menos uma escola de tempo integral, dentro da proposta de tirar as crianças de rua para se tornarem cidadãos e cidadãs de bem, de vida normal e digna. 

        Mas predominou o abandono.  Investimento em educação saiu do dicionário dos dirigentes.  Educação de qualidade tem que ser  privilégio dos endinheirados para dar lucro à rede particular de ensino. As crianças abandonadas de vinte anos atrás se tornaram adultos desnorteados.  O mundo do crime cresceu e prosperou. As cidades pequenas, antes tranquilas e pacíficas, agora têm sua população dividida entre bandidos e os que não são.

        Neste ponto, chegamos a uma situação curiosa: o Crime Organizado pode prosperar, misturar-se ao poder econômico, ao lado das eleições patrocinadas pelo capital privado. A quem representam os eleitos?  De quem dependem?

        Então olhamos os componentes dos poderes executivo e legislativo e não temos certeza de saber com quem estão comprometidos. Percebemos é que as leis estão cada vez mais frouxas em relação aos criminosos.  E mais rígidas sobre os que exercem atividades comuns sob a mira do fisco e das relações do trabalho. São relações de conflito entre os membros da sociedade, como a provocar demandas e ações judiciais, cada vez mais ameaçadoras do parco patrimônio de quem luta para sobreviver. Mas não cuidam da distribuição de riqueza, nem da valorização do trabalho.

        Frente a tanta violência e conflito, os governantes alardeiam planos para altos investimentos em segurança que compreende mais construções de presídios, maior número de viaturas e efetivos policiais, mais avançadas tecnologias nos instrumentos, como câmeras de vigilância por vídeo nas vias públicas.

À medida que o tempo passa, maiores têm sido essas buscas de verbas para segurança. Porque, à medida que o tempo passou, aniquilou-se a educação, desprezaram e desvalorizaram seus profissionais; desqualificou-se o sistema de ensino; deixaram as crianças crescerem abandonadas.  Deixaram de ensinar o menino, agora pensam em punir o adulto. Cada escola a menos, requer um presídio a mais.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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