quarta-feira, 20 de março de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - DROPS





Dilma continua surpreendendo

O nome Dilma parece predestinado a surpreender. 

Quando foi indicada pelo ex- Presidente Lula à sua sucessão, todo mundo  prendeu a respiração : -Quem é essa Dilma...?  

Aos poucos, sua biografia política e profissional foi emergindo. Dilma havia sido uma combatente da Resistência Armada, presa e torturada; participara do PDT de Brizola nos anos 80, daí saindo para assumir importantes funções no Governo gaúcho de Olívio Dutra, o que lhe valeu o impulso para virar Ministra do Presidente Lula;  tinha boa formação acadêmica ; e o que mais admirava: Era oriunda da tradicional família mineira, embora filha de um imigrante búlgaro. Mas jamais havia sido candidata a cargo eletivo. 

– Mas como...?  indagavam-se os políticos profissionais...? 

Vai quebrar a cara!!! Serra vai bater de longe... 

Em resumo: Dilma era ( tida e havia como) um poste:  Loucura do Lula...!!

Veio a campanha presidencial e o nome Dilma, agora incorporado à imagem de mulher sólida, devidamente tratada pelos produtores de imagem, surpreendeu de novo: mesmo com segundo turno, ganhou a eleição. 

Vitória do Lula, disseram todos.  Ele é mesmo “o cara”! 

Outros, céticos, começaram a associá-la ao ex-Presidente Dutra, indicado por Vargas e vencedor nas eleições de 1945. Um mandato tampão enquanto “setembro não vem”, um eufemismo para traduzir o tempo em que Lula ficaria fora da Presidência. Mas, paradoxalmente, Dilma toma posse, tropeça numa herança política nefasta de Ministros acusados de corrupção e nos percalços de uma economia instável , mas surpreende de novo. 

Seu Governo consegue administrar uma difícil Base Aliada, que supostamente respaldaria do ponto de vista social medidas avançadas de um Governo de Esquerda, longe do trauma do isolamento que levou Allende, no Chile, ao Golpe de 1973, e obtém larga margem de apoio popular.  

Sua imagem pessoal, aliás, é maior do que a do próprio Governo e já começa a ultrapassar a do seu criador. 

Veja-se: Pela primeira vez , na última pesquisa CNI/IBOPE, o percentual que considera o atual governo melhor que o de Lula (20%) é maior do que o que considera o contrário (18%). Na pesquisa de dezembro, 21% considerava o governo Lula melhor, e 19% considerava o de Dilma melhor.

Esta   pesquisa CNI-Ibope foi feita entre os dias 8 e 11 de março, a partir de 2.002 entrevistas em 143 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o grau de confiança do estudo é de 95%.

A aprovação do governo Dilma Rousseff bateu novo recorde, com 63% dos brasileiros avaliando a gestão da presidente como boa ou ótima, segundo a pesquisa CNI-Ibope, divulgada nesta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). (...)

A aprovação do modo de governar e a confiança na presidente também bateram recordes: 79% dos brasileiros aprovam o governo Dilma, contra 17% de desaprovação; e 75% confiam na presidente, contra 22% que dizem não confiar. O otimismo com relação ao restante do governo cresceu três pontos percentuais e atingiu a marca de 65%.
Nas duas últimas pesquisas, divulgadas em setembro e dezembro, o índice que avaliou a gestão da presidente como boa ou ótima se manteve estável em 62%. A estabilidade na avaliação havia se mantido também no que se refere ao percentual de pessoas que consideravam o governo regular (29%) e ruim/péssimo (7%); e na expectativa positiva das pessoas em relação ao restante do governo, com 62% manifestando ótima ou boa expectativa – mesmo índice da pesquisa anterior. Em dezembro, a pesquisa havia apontado que 78% dos brasileiros aprovavam o modo de governar da presidente, enquanto 17% desaprovava; e que 73% das pessoas confiavam nela.

Diante destes surpreendentes  números de aprovação as indagações abundam:

1 – Será a Presidente Dilma um novo fenômeno político , com peso político específico para comandar sua reeleição em 2014?

2 – Os números refletem, ainda ( e apenas), a popularidade de seu mentor político, o Lula, alimentados, de resto, pelos efeitos positivos da renda e do emprego sobre os eleitores?

A resposta a estas perguntam dividem os analistas.

Particularmente,  acho que Dilma está fadada a continuar surpreendendo, para exasperação de gregos e troianos, isto é, petistas e anti-petistas.

O exercício do cargo é sempre uma grande incógnita, em termos de popularidade. Se, de um lado, torna o ocupante conhecido, de outro, o submete ao acicate das circunstâncias, exigindo-lhe competência específica para desincumbir-se das funções. Tivemos, no Brasil, ultimamente, vários casos de ocupantes do Palácio do Planalto, que navegaram dos céus ao inferno em poucos meses. Sarney foi um deles. Sucumbiu vertiginosamente ao fracasso do Plano Cruzado, depois de vir a ser abençoado com ótimos índices de popularidade.  Itamar, curiosamente, lembra aquelas leis que não pegam. Parece que nem existiu. Será tão lembrado como Afonso Pena... Mas Dilma, “O Poste”, vai ganhando luz própria. E se afirmando. Até mesmo seu estilo sargentão, vociferante, antipático, vai ganhando novos contornos. Sua última aparição em  público,  no Vaticano ( março ,19) chega a surpreender pela suavidade e inteligência: “O Papa é argentino mas Deus é brasileiro”.  Um truísmo. Velho de cansar. Mas que, oportunamente, valeu à Presidente sua primeira grande frase. E um estilo mais soft.

Outro ponto a favor de Dilma, pouco percebido, é que  ela faz o gênero do que Cesar Maia denomina “não política”. 

Com isso, num momento de extrema ojeriza aos políticos, aos Partidos e ao Congresso Nacional, ela pontifica como antítese, polarizando a seu favor o descontentamento da classe média com o que aí está: Um homofóbico na Comissão de Direitos Humanos da Cãmara, o Rei da Moto Serra na Comissão de Meio Ambiente no Senado, figurões do PT condenados pelo Mensalão. Dilma se mantém, surpreendentemente, longe de tudo isto. Indicações demonstram que ela não está bem apenas entre os muito pobres e desinformados, nordestinos e trabalhadores em geral, como ocorreu nas eleições de 2010. Começa a ganhar a simpatia dos eleitores de Serra no Sul/Sudeste. Começa a ganhar apoio no meio empresarial. Começa a se consolidar como liderança feminina, entre as mulheres. E, superando expectativas, vai ao novo Papa Francisco I e não só o justifica, como um mensageiro de um continente politicamente comprometido com os pobres, como “se “justifica , assim, no seu”público interno”.

Um conjunto novo, enfim, de novos eleitores, portanto,  vêem referendar a herança política popular de Lula e do PT, agora  nacarada pelos filamentos da classe média tradicional.  Nisto, ela surpreende porque inova em estilo de liderança trazendo à cena política um novo perfil: educada, direta, posicionada, sem vínculos com as práticas partidárias vigentes no país há décadas. 

Não por acaso , ela clama pela Reforma Política, ainda neste mandato, embora sem explicitar com clareza o que isto seria.

Enfim,  Dilma ainda é um enigma. Mas já surpreendeu o suficiente para demonstrar que pode se tratar de algo novo, senão em termos ideológicos, mas de procedimentos.  E, como tudo o que é surpreendente, difícil de prognosticar. 

Mas como tudo o que é novo, um alento...

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