quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Até mão de obra brasileira está sendo desnacionalizada




          
         Com 2,329 milhões de brasileiros desempregados, Moreira Franco, Secretário de Assuntos Estratégicos, diz que “é preciso facilitar a vinda de trabalhadores estrangeiros gabaritados, para compensar a escassez de profissionais qualificados no Brasil”.

         Se os governantes dos municípios, dos estados e da União deixaram de fornecer escolas de qualidade para a sua população, a culpa é dos próprios dirigentes do País.  E, mais uma vez, é a classe trabalhadora quem paga a conta.

         Vem de longe, desde a Ditadura Militar, que as crises sócio-econômicas recaem sobre os ombros daqueles que produzem toda a riqueza da nação, com arrocho salarial, cortes nos direitos trabalhistas, desoneração das folhas de pagamento, despedidas em massa para enxugar os gastos das empresas, terceirização nas estatais, rotatividade da mão de obra, queda nos valores reais das aposentadorias.

         Tudo isto sem se falar nos salários efetivamente pagos muito abaixo das necessidades reais de cada um e sua família. A grande maioria recebe o correspondente a apenas um quarto do que a Constituição Federal determina.  Nem os professores, de quem se exige formação superior, recebem o mínimo constitucional.

         O governo oferece escola medíocre a seus jovens, em todos os níveis. E produz muitos analfabetos absolutos e funcionais, em nome de cumprir estatísticas irreais para organismos internacionais.  E, quem não pode pagar escola particular, chega à idade adulta despreparado. 

         Na verdade, muito mais do que os mais de dois milhões de desempregados informados oficialmente, estão os subempregados que recebem abaixo do mínimo que a Carta Magna determina.

         Esses estrangeiros “gabaritados” não virão para receber R$ 680,00 por mês.  Virão com os privilégios negados aos trabalhadores nacionais. E estarão contribuindo para aumentar o número de desempregados brasileiros. É um processo de repetição da chamada “Abolição da Escravatura”.  Ao invés de remunerar os ex-escravos, os governantes imperiais preferiram abrir as portas(ou melhor, os portos), para os trabalhadores de fora.   Os negros “libertos” foram postos da porteira para fora para mendigar. E os estrangeiros passaram a receber a remuneração que a eles deveria ser destinada.

         Agora os estrangeiros virão “gabaritados” ocupar o lugar dos brasileiros e contribuir para a redução dos salários, e o crescimento do desemprego.  Parece que o Brasil tem de cumprir o papel de satélite dos Estados Unidos neste momento de crise. Vai oferecer vagas para os desempregados do Império do Norte.

         Tudo isto agrava mais o quadro das desigualdades sociais no Brasil. As classes despossuídas que não puderam pagar escolas de qualidade para seus filhos, vão ter que se conformar em ver as gerações seguintes continuarem distantes das oportunidades de ascensão social. Eternas vítimas das “capitanias hereditárias”.

         Os prefeitos recém-empossados precisam tomar consciência desta realidade. Eles, de um modo geral, são membros dos privilegiados 10% mais ricos de sua comunidade. Mas têm o dever moral de ver sua gente sair desse quadro de miserabilidade do desemprego e do subemprego. Têm  de qualificar os cidadãos do futuro para as tarefas do desenvolvimento da cidade e do país, como empregado ou empregador, ou trabalhador autônomo.  Quanto maior número de capacitados para uma função e outra, menor será o número de desempregados. 

         A escola tradicional está falida. Nem tirou muitos do analfabetismo absoluto, nem evitou outros tantos de analfabetos funcionais. Falta estrutura pedagógica, valorização dos professores, maior tempo de permanência nos educandários, tanto dos discentes como dos docentes.  Uns para aprender mais e melhor. Outros para se aperfeiçoar e manterem-se atualizados.

         A escola de tempo integral é o único caminho para conquistar essa evolução social. As classes dirigentes têm que parar de ter medo de quem estuda e aprende.  Só a educação liberta a todos. Os que negam essa necessidade à maioria também se tornam prisioneiros da violência e da marginalidade, e terão, cada vez mais, de fazer imensas despesas na construção e manutenção de presídios. Esse absurdo de colocar o “auxílio reclusão” maior do que o salário mínimo é resultado de  lei de iniciativa de algum legislador integrante do Crime Organizado.  Grande insensatez!   
Manter detento requer R$ 3.312 ao mês, contra R$ 1.498 de estudante de faculdade, contra  Piso salarial dos professores, de R$ 1.567 em 2013.  Quando se trata de estudante de Ensino Básico, a diferença cresce muito mais. 

As classes dominantes, através de seus governantes, invertem as coisas, e preferem gastar muito mais com a repressão, do que com a prevenção. 

Na “Abolição da Escravatura”, os negros “libertos” saíram a pedir esmolas pacificamente. Agora, um desempregado que cai na marginalidade acha que esmola é trabalhar oito horas diárias para, no fim do mês, receber R$ 680,00.  A comercialização dos “bagulhos” rende muitas vezes mais do que isto.

        A entrada de estrangeiros “qualificados” para ocupar o lugar dos brasileiros desempregados é mais uma demonstração da perda de soberania nacional, somada à invasão de terras distantes da Amazônia onde outros povos têm liberdade de ir e vir, menos os brasileiros.

        O trabalhador brasileiro começa a ser desqualificado desde a tenra infância, onde não tem oportunidade de frequentar boas escolas, porque o estado não quer.  Torna-se adulto para entrar no “exército” de reserva da mão de obra barata à disposição da camada privilegiada dos 10% mais ricos, que concentram três quartos da riqueza produzida.  Para essa camada, a equipe econômica produz superávit primário cada vez maior, para pagar os juros da dívida pública, cujos investidores são os mesmos concentradores da renda e da riqueza.  

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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