quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Avenida Beira-Rio, um problema sem fim


         

         Hoje está interditado em meia pista o seu trecho onde a avenida se inicia, próximo à Rua Presidente Antônio e à Ponte do Carrapicho, por motivo das obras de contenção da margem esquerda, que vem sendo murada desde a Ponte da Água Limpa.

        
Estamos no fim do mês de dezembro. A enchente que provocou os últimos estragos aconteceu em 02 de janeiro deste ano.  E todo o percurso entre as duas pontes ficou drasticamente afetado.















         O leitor pode achar repetitivo falarmos sobre aquela via pública. Mas não dá para se omitir diante dos problemas que ela causa por ocasião de todas as enchentes que transbordam o leito do Rio Chopotó.  E essas enchentes vêm ocorrendo sistematicamente com intervalo cada vez menor, desde 2006.  A manutenção somente daquele espaço tem causado muita despesa pública, com recursos que poderiam estar sendo usados para outros fins, não fosse a precariedade da sua construção e a inobservância dos quesitos técnicos que deveriam ter sido estudados e considerados antes da obra.  Virou um elefante branco. É um trecho pequeno, que fica a maior parte do ano interditado, e consome muita verba para a sua manutenção, sem garantia de solução definitiva.

         O muro melhora um pouco o visual terrível de suas vísceras expostas na paisagem lúgubre ao longo do rio que corta o centro da cidade.  As construções dentro d’água e o barranco em erosão passam a ficar abaixo da visão de quem passa rápido sem curiosidade para observar o tétrico cenário.  





         Arrimos de contenção vêm sendo tentados desde 2006, dentro da capacidade normal do Poder Executivo Municipal.  Não foram suficientes para conter os impactos das cheias, como a de 2 de janeiro último. A de novembro de 2010 também fez estrados de monta.  Desde então, o Estado, através do DER tem participado com obras de maior consistência na implementação dos chamados “gabiões”, aqueles muros de maior espessura, preenchidos com cimento armado, nas “gaiolas” de ferro, como aconteceu na Rua Major Felicíssimo, nas proximidades da Ponte do Dr. Lelé, no local aonde desabou um prédio de dois pavimentos com uma vítima fatal.  Ali se dá o encontro dos Rios Piedade e Chopotó. 





























   




         Os “gabiões” estão presentes em outros pontos do trecho crítico da avenida/rio, como a alguns metros da Ponte da Água Limpa.

         Se bem analisado, está havendo um confronto do homem contra a Natureza. Toda a Avenida violou o espaço destinado à existência das matas ciliares, que absorviam parte das águas e amorteciam seu impacto. Suas raízes davam segurança ao solo e evitavam a erosão.  Plantado o mal – construção da avenida – a resposta veio em destruição da pista repetidamente.  A administração pública, seja em que mandato for, sente-se cobrada a reparar os estragos, acompanhados das despesas correspondentes.  Sem interdição, não há como reparar.  A finalidade da pista fica interrompida. As enchentes se repetem, destroem as obras e o que houver no caminho, o choque com as pedras faz as correntes mais fortes para danificar outros obstáculos pela frente.

         O muro construído entre uma ponte e outra melhora o visual. Mas não impede a pista se transformar em rio paralelo pelas águas que escapam sobre as pontes, em cujas passagens não se podem construir muros.  E ninguém impede que essas águas, somente obedientes à Lei da Gravidade, acabem levando também os muros para novos desafios futuros.

         A cidade lamenta a falta de critérios para aquela construção.  O volume dessas enchentes vem de longa data, por vezes repetidas, bem conhecidas após 1932.  Isto seria o bastante para evitar uma obra custosa, cara, somente para dar acesso a uma ponte que ligava a Rua Dr. Altino Peluso a lugar nenhum.  




         Teria de haver estudos profundos de engenharia e disponibilidade financeira para saber se havia como aumentar a calha do Rio de forma a comportar o volume das águas, sem esses transbordamentos que tornaram as enchentes o maior problema do Município.

         Basta nublar,  ventar e chover, como nesta tarde, para gerar apreensões. Ainda não houve, neste ano, depois do fatídico 2 de janeiro, temporal e chuvas torrenciais de maior duração.  Foram somente fatores climáticos conhecidos como “chuvas de verão”.  Passaram logo. Tomara que toda ameaça não passe disto.  E que o tempo passe depressa para o povo da cidade, principalmente os que vivem ou trabalham nessas margens, sentir a sensação de que o perigo acabou.

É tempo de festa, de reencontro dos rio-branquenses ausentes com seus parentes e amigos. A Beira-Rio tornou-se um monstrengo neste cenário colorido que dá razão a Bertolt Brechet que deixou a sentença:  "Você chama de violentas as águas de um rio que tudo arrastam; mas não chama de violentas as margens que o aprisionam. "

         Até parece que o pensador está vivo e dizendo isto hoje para uma cidade onde a prepotência do dinheiro está destruindo a natureza, a arte, a história e a cultura de um povo que, no começo do século XX, criava obras e monumentos como marca da razão, do pensamento iluminista, cravadas no estilo Neoclássico no centro da cidade, muito perto do curso do Rio Chopotó(ou Xopotó, como querem alguns), vítima silencioso e bravo dessa violentação sofrida e continuada.

A prepotência coloca-se acima e mais forte do que os bens culturais e naturais, sem a humildade necessária para entender que os prepotentes também são partes menores da Natureza Eterna e não o contrário, como parecem pensar no seu obscurantismo causado pela adoração cega ao vil metal.   

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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