segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Chuvas de Verão chegam na Primavera


                   



         O calor abrasador do último fim de semana mexeu com o ânimo e trouxe desconforto  a muita gente.  Animou, com certeza, os que pensam aproveitar o feriadão de Finados para passar a temporada a começar na próxima sexta-feira no litoral do Espírito Santo, ou Rio de janeiro.

         E esta segunda-feira veio marcada de pancadas de chuva sem qualquer surpresa.  Quando esquenta muito a evaporação inevitavelmente forma as nuvens que despencam para mostrar os primeiros índices pluviométricos da temporada e elevar a umidade do ar.

         Nossa Primavera, que só termina em dezembro, antecipa os ares de Verão desde o mês de outubro. 

         A meteorologia vinha anunciando “pancadas de chuva em áreas isoladas”, em uma indicação genérica abrangente à Zona da Mata.  Mas os 142 municípios desta região variam muito de altitude, em uma topografia diversificada, com grande variedade na densidade de sua vegetação.  Há uma forte tendência para os municípios menores terem maior percentagem de habitantes na zona rural, o que influi para que neles o espaço urbano ainda esteja coberto de vegetação, o que provoca certo equilíbrio entre a chuva que cai e as cheias dos seus rios. 

         Visconde do Rio Branco está entre os dez maiores municípios da Zona da Mata em número de habitantes com sua população recenseada em  2010    de 37.942 habitantes e estimada em 38.353(+1,08%), para 2011.  Se o crescimento estimado para 2012 for o mesmo, poderemos estar em torno de 38.767 moradores neste Município.      

         Aqui a densidade demográfica cresceu muito na Zona Urbana. Anda hoje em mais de 80% moradores na cidade e menos de 20% na roça. Em cada 10, 8 vivem no centro e nos novos bairros criados na periferia.  Em 1970 eram divididos pela metade os 25.777 moradores da roça e da cidade.

         De lá para cá, aconteceu o êxodo rural, quando os camponeses buscaram os grandes centros do país, principalmente São Paulo, para tentar vida melhor.  Mas lá também houve seus limites. Aconteceu a explosão demográfica.  Muita gente para pouco espaço. A tecnologia chegou com a robotização das empresas, principalmente montadoras de automóveis. E as vagas de trabalho foram sendo ocupadas pela máquina.  O desemprego cresceu em proporções assustadoras.  Muita gente nas filas diárias a disputar uma vaga.  O desespero dos desempregados levou alguns a engordar o mundo do crime. Assaltos, assassinatos a qualquer hora do dia ou da noite na disputa por qualquer valor levaram muitos a procurar o caminho de volta.

         Ninguém quis voltar para a roça, porque a enxada e o arado  estavam superados pelos tratores e máquinas mais sofisticadas, aqui como lá, a ocupar o lugar da mão de obra.

         E o mercado imobiliário viu nessa migração grande oportunidade de negócios.  A Zona Urbana cresceu desordenadamente e sem qualquer planejamento, com a abertura de muitos bairros, sem os cuidados necessários para manter o equilíbrio ecológico. As áreas verdes, o chão que absorvia as águas de chuva, alimentavam os lençóis freáticos e as minas, e liberavam essas águas lentamente, com diferença de meses para realimentar o leito dos rios nas estiagens. Essas áreas foram bruscamente cobertas por asfalto, calçamento e construções de cimento armado.

         Agora, as chuvas não mais penetram o solo para manter a vegetação, nem mantém a umidade e liga da terra. Muitas minas secam.  Fica difícil abrir um poço artesiano.  As águas pluviais batem na pedra e tomam caminho direto e imediato para os rios. Tronam-se fluviais em curto espaço de tempo e de trajetória.

         Por isto que, a cada ano, quando chega outubro e o ano se aproxima do fim, cresce o temor das enchentes.  O calor aumenta até começar o outro ano. Qualquer tromba d’água nas nascentes, ou período de chuvas fortes por dias seguidos ameaça o transbordamento dos rios Chopotó e Piedade.

         O Município passou por uma série de erros administrativos nos últimos 20/30 anos, como se de nada servissem os ministérios  das Cidades e do Meio ambiente.  Obras públicas e particulares foram realizadas dentro dos rios e geraram uma quantidade alarmante de áreas de risco.  A Avenida Beira-Rio ocupou as margens do Chopotó no seu exato espaço onde deveriam existir as matas ciliares que o protegeriam do assoreamento, em uma diferença de nível pequena para o fundo onde passa o curso de água em período de estiagem.  Não bastassem as enchentes desde 1932 para mostrar a temeridade daquelas obras expostas à suscetibilidade das águas que tudo arrastam nas cheias, quando o seu leito se encontra obstruído, invadido, comprimido, violentado.  Estendeu-se aquela avenida seccionada: um trecho desde a Ponte do Carrapicho até a Ponte da Água Limpa; outro, desde a Ponte da antiga Cooperativa(Rua Diogo Braga), até a Ponte Branca(Rua Oscar Salermo-Barreiro).   No primeiro segmento, ela tem paralela, do outro lado do rio, a Rua Dr. Altino Peluso(Caminho da Vovó);  no segundo, tem a Rua José Lopes.

         A Rua Dr. Altino Peluso é antiga e se servia como um atalho entre o Carrapicho e a Água Limpa.  Já a Rua José Lopes veio a ser criada em conseqüência da abertura da Beira Rio.  E às margens dessas ruas e avenida surgiram, como é natural, prédios residenciais e atividades comerciais. Tudo isto sem observância da capacidade cúbica do curso dos rios, que poriam  todos em risco na certeza das enchentes.  Os alvarás de construção nesses locais, e dentro do Chopotó e do Piedade tornaram-se aberta exposição de vidas ao perigo, além de prejuízos materiais pelo furor das águas transbordantes. 

         Por essas razões,  a população, principalmente ribeirinha, se enche de apreensões quando o ano chega ao fim.  Antes do crescimento urbano, as cheias aconteciam em largo espaço de tempo: 1932, 1959...   Depois do crescimento: 2006, 2008, 25 de novembro de 2010 e 02 de janeiro de 2012.
Vai se fechando o espaço entre uma e outra. A chuva de hoje, pela quantidade e pelo tempo de duração parecia anunciar a chegada de sua época.  Tomara que não!

Mas, por via das dúvidas e precaução, as autoridades devem mobilizar a defesa civil em alerta,  realizar treinamentos, simulações.  Não mais se justifica alegar que o temporal e as enchentes pegaram todos de surpresa.   Será surpresa se não acontecer.

A esta altura, a unidade do Corpo de Bombeiros sediada em Ubá, deverá estar preparada, com um maior contingente.  Todos sabem da vulnerabilidade de Visconde do Rio Branco e Guidoval, além de outros municípios rio abaixo.  É provável que Cataguases e Muriaé tenham suas próprias unidades.

            Há obras e obras.  As pontes do Carrapicho e da Água Limpa eram de pranchões barulhentos. Entre 1954 e 1958 o prefeito Jorge Carone Filho as construiu de cimento armado.  Hoje, mais de meio século depois, estão lá com suas estruturas inabaláveis, apesar de todas essas enchentes que aconteceram.  Já a Avenida Beira-Rio, construída depois de 1992, desmorona-se a cada enchente. A sua reparação e conservação toma quase todo o tempo entre uma enchente e outra, com interdições temporárias, principalmente no trecho entre as duas pontes citadas.  Os custos de seus concertos e manutenção ficam muito elevados, fazem falta para outras obras e manutenção de outras pistas.  Aquele pequeno trecho tem tido pouco aproveitamento.  Seu custo/benefício é muito desequilibrado.

(Franklin Netto – Franklin_netto@gmail.com) 

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