O tempo tem
demonstrado o aumento das enchentes em Visconde do Rio Branco, à medida que
cresce a população urbana. A ocupação principalmente das colinas pelo
calçamento das ruas abertas e do cimento
armando nas construções diminui as áreas onde parte das águas de chuva se
infiltrariam e alimentariam os lençóis freáticos, assim como as
minas.
A
impermeabilidade do solo provoca as correntes imediatas da chuva para as partes
baixas, arrastando a terra solta de lotes planados para construções e todo tipo
de entulho encontrado na sua trajetória provocada pela gravidade. Tudo vira
lama e sujeira direcionada ao rio e parte da
sujeira fica espalhada nas calçadas e nos quintais por onde passam as
enxurradas.
Enchente 2012. Imagem: Edgard Amin
Desde que
começou o êxodo rural e o conseqüente crescimento populacional no perímetro
urbano, deveria ter havido planejamento adequado a comportar esse crescimento.
Já fomos um país essencialmente agrícola, até início do Século XX. Em cada
município, principalmente os menores, a situação era a mesma. Depois da
Revolução Industrial, a partir dos anos 30, os trabalhadores rurais começaram a
deixar a roça, em busca de emprego com as garantias dos direitos trabalhistas.
E a permanência na lavoura era cheia de dificuldade em relação a escolas,
tratamento de saúde e compra dos bens de consumo que não fossem alimentos.
Visconde do
Rio Branco, em 1970, tinha metade de
seus habitantes na zona rural. Dez anos depois crescia o número daqueles que
procuravam São Paulo e outras “cidades grandes”, em busca de futuro
melhor. E muitos simplesmente migraram
para cidade por aqui mesmo, quando começaram a surgir os bairros São Jorge, de
Lourdes, Jardim Alice, Ducília Carone e “cantos” nos finais das principais ruas
de saída do Centro.
Bairro Jardim Alice. Imagem: Edgard Amin
Deveriam
servir de advertência para os agentes públicos encarregados de administrar o
Município. Por todo lado, no Brasil e no Mundo, a tendência é a baixa densidade
demográfica dos campos.
E aqui a
topografia teria que chamar atenção para os cuidados com esse crescimento
urbano. Esperava-se que ele acontecesse na continuação das ruas principais em
direção às cidades vizinhas e aos povoados dos arredores.
Acreditava-se que
chegaria a um ponto em que se unissem estes municípios por expansão natural de
cada um.
Como aqui os
morros cercam a urbs, a sua ocupação
desordenada traria resultados perigosos e desconfortáveis tanto para os
moradores de cima, quanto para os de baixo.
Os
loteamentos e bairros deveriam ter sido abertos prioritariamente no plano
horizontal.
O pessoal
que procurou São Paulo, buscou o caminho de volta, quando a vida lá se tornou
insuportável pelo inchaço demográfico. Muita gente e pouco espaço. Longa distância de casa para o trabalho.
Violência urbana.
Muitos
venderam bens e receberam indenizações.
Voltaram para a terra, mas não para a lavoura. Estavam certos, porque a incerteza do tempo
não garante safra. E a mecanização praticamente acabou com a enxada. Sobravam mãos.
Faltava serviço.
Quem tinha
terrenos em volta, plantava milho morro acima, arroz nas partes úmidas e feijão
e outros cereais onde o grão germinasse e crescesse. Sempre ajudava nas despesas. Nos pontos mais altos, criava-se gado.
Mas o
comportamento humano veio mudando, conforme cresciam os problemas sociais. Quem tinha uma vaca de leite, ou um boi a
espera do momento do corte, de repente chegava ao pasto e encontra somente os
chifres e cascos. As plantações iam
desaparecendo roubadas. O nó na garganta
aniquilava o estímulo. “Assim não dá”
A procura
por lotes maior do que a oferta despertou a vontade de vender as terras e ficar
somente com a casa de morada. A
especulação imobiliária aproveitou a onda.
A falta de cuidado dos poderes públicos deixou tudo acontecer como o
estouro da boiada.
Nada de planejamento, nem atenção para as consequências
ambientais. Surgiram os “bairros” e
loteamentos a pique, sem limite do grau de declividade técnica. Sem a preservação de espaço em espaço para
absorver as águas de chuva que mantivessem a umidade e consistência do solo. E
ficassem por maior tempo antes de chegar ao rio.
O equilíbrio
ecológico natural está em as águas subterrâneas serem liberadas na época da estiagem.
E a enchente
de 1932 era uma advertência de que nosso Chopotó tem vala insuficiente para
comportar outro volume de chuvas como aquela tormenta. E, naquele ano, havia poucas casas e ruas
calçadas na cidade.
Já que se teria
de ocupar os espaços verdes, principalmente nas colinas, um planejamento sério
e responsável faria reservar para cada
lote construído, um outro cru, de terra pura, ou com flora, permeável.
Parecia que
a enchente daquele ano teria sido um fenômeno atípico e que nunca se
repetiria. Mas houve uma nos fins dos
anos 50 quase nas mesmas proporções.
Não é mera
coincidência: à medida que cresce a população urbana, com suas construções e
ruas asfaltadas, as enchentes de grandes proporções estão acontecendo em
espaços menores, e cada vez mais devastadoras.
Vias públicas e obras particulares à margem e dentro do rio liquidaram
muito das matas ciliares, a proteção natural contra assoreamento, e
sustentadoras do solo das margens.
As últimas
demonstrações tivemos em 2006, em novembro de 2010, e em 02 de janeiro de 2012.
As de 2010 e 2012 com vítimas fatais, além dos estragos em bens públicos e
prejuízos para uns e outros.
Estamos a
pouco mais de um mês das eleições municipais. Preocupa a incerteza do que virá
em 2013. A razão aponta a necessidade de
uma mentalidade diferente, onde haja um Plano Diretor para valer, junto com
ações de planejamento permanente para conter o desarranjo habitacional até aqui
existente, cheio de áreas de risco sob perigo de cheias, erosão, inundação,
tanto em baixo, como nos altos dos
morros.
(Franklin Netto -
viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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