segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Novos loteamentos nos morros centrais da cidade aumentam o perigo das enchentes




O tempo tem demonstrado o aumento das enchentes em Visconde do Rio Branco, à medida que cresce a população urbana. A ocupação principalmente das colinas pelo calçamento das ruas abertas e do  cimento armando nas construções diminui as áreas onde parte das águas de chuva se infiltrariam  e alimentariam os lençóis freáticos, assim como as minas. 

A impermeabilidade do solo provoca as correntes imediatas da chuva para as partes baixas, arrastando a terra solta de lotes planados para construções e todo tipo de entulho encontrado na sua trajetória provocada pela gravidade. Tudo vira lama e sujeira direcionada ao rio e parte da  sujeira fica espalhada nas calçadas e nos quintais por onde passam as enxurradas. 
Enchente 2012. Imagem: Edgard Amin

Desde que começou o êxodo rural e o conseqüente crescimento populacional no perímetro urbano, deveria ter havido planejamento adequado a comportar esse crescimento. Já fomos um país essencialmente agrícola, até início do Século XX. Em cada município, principalmente os menores, a situação era a mesma. Depois da Revolução Industrial, a partir dos anos 30, os trabalhadores rurais começaram a deixar a roça, em busca de emprego com as garantias dos direitos trabalhistas. E a permanência na lavoura era cheia de dificuldade em relação a escolas, tratamento de saúde e compra dos bens de consumo que não fossem alimentos.

Visconde do Rio Branco, em 1970,  tinha metade de seus habitantes na zona rural. Dez anos depois crescia o número daqueles que procuravam São Paulo e outras “cidades grandes”, em busca de futuro melhor.  E muitos simplesmente migraram para cidade por aqui mesmo, quando começaram a surgir os bairros São Jorge, de Lourdes, Jardim Alice, Ducília Carone e “cantos” nos finais das principais ruas de saída do Centro.
Bairro Jardim Alice. Imagem: Edgard Amin


Deveriam servir de advertência para os agentes públicos encarregados de administrar o Município. Por todo lado, no Brasil e no Mundo, a tendência é a baixa densidade demográfica dos campos.

E aqui a topografia teria que chamar atenção para os cuidados com esse crescimento urbano. Esperava-se que ele acontecesse na continuação das ruas principais em direção às cidades vizinhas e aos povoados dos arredores. 

Acreditava-se que chegaria a um ponto em que se unissem estes municípios por expansão natural de cada um.

Como aqui os morros cercam a urbs, a sua ocupação desordenada traria resultados perigosos e desconfortáveis tanto para os moradores de cima, quanto para os de baixo.

Os loteamentos e bairros deveriam ter sido abertos prioritariamente no plano horizontal.

O pessoal que procurou São Paulo, buscou o caminho de volta, quando a vida lá se tornou insuportável pelo inchaço demográfico. Muita gente e pouco espaço.  Longa distância de casa para o trabalho. Violência urbana.

Muitos venderam bens e receberam indenizações.  Voltaram para a terra, mas não para a lavoura.  Estavam certos, porque a incerteza do tempo não garante safra. E a mecanização praticamente acabou com a enxada.  Sobravam mãos.  
Faltava serviço.

Quem tinha terrenos em volta, plantava milho morro acima, arroz nas partes úmidas e feijão e outros cereais onde o grão germinasse e crescesse.  Sempre ajudava nas despesas.  Nos pontos mais altos, criava-se gado.

Mas o comportamento humano veio mudando, conforme cresciam os problemas sociais.  Quem tinha uma vaca de leite, ou um boi a espera do momento do corte, de repente chegava ao pasto e encontra somente os chifres e cascos.  As plantações iam desaparecendo roubadas.  O nó na garganta aniquilava o estímulo.   “Assim não dá”

A procura por lotes maior do que a oferta despertou a vontade de vender as terras e ficar somente com a casa de morada.  A especulação imobiliária aproveitou a onda.  A falta de cuidado dos poderes públicos deixou tudo acontecer como o estouro da boiada.

Nada de planejamento, nem atenção para as consequências ambientais.  Surgiram os “bairros” e loteamentos a pique, sem limite do grau de declividade técnica.  Sem a preservação de espaço em espaço para absorver as águas de chuva que mantivessem a umidade e consistência do solo. E ficassem por maior tempo antes de chegar ao rio.

O equilíbrio ecológico natural está em as águas subterrâneas serem liberadas na época da estiagem. 

E a enchente de 1932 era uma advertência de que nosso Chopotó tem vala insuficiente para comportar outro volume de chuvas como aquela tormenta.  E, naquele ano, havia poucas casas e ruas calçadas na cidade.

Já que se teria de ocupar os espaços verdes, principalmente nas colinas, um planejamento sério e responsável faria  reservar para cada lote construído, um outro cru, de terra pura, ou com flora, permeável.

Parecia que a enchente daquele ano teria sido um fenômeno atípico e que nunca se repetiria.  Mas houve uma nos fins dos anos 50 quase nas mesmas proporções. 

Não é mera coincidência: à medida que cresce a população urbana, com suas construções e ruas asfaltadas, as enchentes de grandes proporções estão acontecendo em espaços menores, e cada vez mais devastadoras.  Vias públicas e obras particulares à margem e dentro do rio liquidaram muito das matas ciliares, a proteção natural contra assoreamento, e sustentadoras do solo das margens. 


As últimas demonstrações tivemos em 2006, em novembro de 2010, e em 02 de janeiro de 2012. As de 2010 e 2012 com vítimas fatais, além dos estragos em bens públicos e prejuízos para uns e outros.


Estamos a pouco mais de um mês das eleições municipais. Preocupa a incerteza do que virá em 2013.  A razão aponta a necessidade de uma mentalidade diferente, onde haja um Plano Diretor para valer, junto com ações de planejamento permanente para conter o desarranjo habitacional até aqui existente, cheio de áreas de risco sob perigo de cheias, erosão, inundação, tanto em  baixo, como nos altos dos morros.


(Franklin Netto -  viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário