Cínica,
embora praticada sem escrúpulos, a doutrina de Nicolau Maquiavel está presente
no quadro político brasileiro, da presidência da República aos gabinetes dos
vereadores. Ao transformar virtudes da vida privada em erros da vida pública,
seu pensamento contribui para afastar cada vez mais as pessoas de bem do
exercício da política. E contraria Bertold Brecht
Imagem: sandicesdemomento.blogspot.com
Para esse “pensador”,
se uma pessoa valoriza o cumprimento da palavra empenhada na atividade
particular, deve abrir mão desse princípio, se quiser ter sucesso na vida
pública. Os mensalões deixam de ser crimes, as maracutaias se justificam, o
superfaturamento de obras se tornam normais e admissíveis, desde que o
contribuinte pague tudo em forma de impostos e em péssimos serviços recebidos
do estado.
Quando Lula
dizia que “não sabia de nada”, diante de cada acusação sobre seus auxiliares
extensiva a suas responsabilidades de chefe, estaria praticando o
maquiavelismo. E faz pensar que sua
declaração de “ler é muito chato” pode ser uma estratégia para ninguém
imaginar que pudesse ser um seguidor de Maquiavel.
A criação do Bolsa-família, sem contrapartida,
é maneira de fazer o “príncipe” operário ser bem sucedido na permanência no
poder. Do mesmo modo, Sarney, fazendo de
seu estado o de pior IDH do Brasil, acha no analfabetismo um instrumento de
perpetuar a sua dinastia no poder. “Os
fins justificam os meios”, um dos princípios
maquiavélicos, mesmo que a sentença literal seja de outra autoria. Mas o seu espírito está da obra de “seu”
Nicolau.
Quando um
político experiente e carreirista diz que “pra se eleger tem que mentir mesmo”,
está sendo pragmático no dogma do cinismo.
Não por
acaso, as classes dominantes fazem de tudo para o povo se manter longe da
cultura e da educação de qualidade.
Conhecimento abrangente da sociedade é ameaça para esses grupos, para os
financiadores de campanha, para os que dizem que “pobre não pode estudar mesmo”.
E muitos
daqueles que se fizeram passar por defensores da justiça social e, no poder,
praticam o mais deslavado liberalismo econômico, são exemplos dos que não têm
pudor de exibirem suas contradições. Mentiram deliberadamente ontem, mentem convenientemente
hoje, e mentirão sempre, enquanto a mentira mantiver suas chances de se
enriquecer no poder.
O próprio
Lula, denunciado pela Revista Forbes de ter acumulado uma fortuna de mais de
dois bilhões de dólares, com os seus dois mandatos, não teve o menor interesse
em desmentir aquele veículo de comunicação. O Lulinha, antes do mandato do
paizão, trabalhava em um zoológico, com salário de menos de R$ 2.000,00. Virou milionário naqueles oito anos das graças do Planalto.
O raio de
ação de mensalões e que tais teve início do outro lado do muro, no ninho tucano
do PSDB mineiro, quando, em 1998, Eduardo Azeredo deu o pontapé inicial nessa partida
infame. Faces da mesma moeda, PT e PSDB
vêm, desde então, polarizando as preferências eleitorais. Seus maiores expoentes tiveram as marcas
FHC/LULA, SERRA/LULA, SERRA/DILMA. Os
dois partidos têm os mesmos aliados como satélites em cada oportunidade de
poder, nas coalizões parlamentares: PSB, PMDB, PTB, PDT, PC do B, PP, DEM e
outros de menor expressão. Pode-se saber
que essas montagens atendem aos interesses dos financiadores de campanha:
empreiteiras, empresas de publicidade, bancos e marqueteiros. E o tempo mostrou
figuras como Marcos Valério ora de um lado, ora de outro, conforme a direção do
vento. Duda Mendonça foi promotor de imagem de Paulo Maluff e de Lula.
Imagem: silvanolago.com Imagem: gracanopaisdasmaravilhas.blogspot.com
Ao atenderem
os extremos da pirâmide social, garantem-se no poder. Aos miseráveis as migalhas que os fazem
prisioneiros e dependentes; aos donos do
grande capital, as facilidades e liberdade para especulação, agiotagem, concentração de renda.
Quem trabalha
recebe menos de um quarto do que precisa para a sua sobrevivência; quem não
trabalha recebe menos ainda para garantir os votos que fazem a diferença; quem
especula na ciranda financeira ganha mais do que 80% de toda a renda nacional
para assegurar o permanente financiamento das campanhas. E quem administra esses
extremos goza o privilégio das farras com o dinheiro do contribuinte que são as
pequenas e médias empresas e os assalariados de média remuneração. Estes sofrem a sangria de quase a metade do
que produzem para os gastos perdulários dos grupos de poder e seus associados e
protegidos. A sangria vai nos impostos de quase 40% do trabalho de cada um.
Assim, os
maquiavélicos se equilibram enquanto podem nas cordas dos legislativos e
executivos. Quem mente nem sempre perde
a razão, que a própria razão desconhece. Papai Maquiavel bate palmas. Enquanto
a mentira estiver dando certo, eles vão se locupletando na vida pública. Quando começarem a perder crédito, estarão
ricos, em fim de carreira.
Os eleitores
que, através dos tempos, descobrem o elenco de mentiras, também estarão
envelhecendo e cansados de esperar por dias melhores.
Outras
gerações estarão surgindo de um lado e de outro. Novos atores passarão a enganar novos expectadores,
para sucesso das editoras do “pensamento” de Nicolau Maquiavel.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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