A Lei veio
quando os valores éticos e morais da classe política atingiam o cume do
cinismo. As negociatas com o bem público, o superfaturamento de obras, de
publicidade e demais serviços prestados por terceiros, a legislação em causa
própria, o nepotismo, a admissão de servidores apadrinhados no lugar de
concursados, a compra escancarada de votos penetravam na cultura popular como
algo normal.
Apesar
disto, o próprio povo reclamava das notícias de escândalos que envolviam
parlamentares e membros de executivo, a partir do momento em que a grande
imprensa divulgava.
Os mesmos
que admitiam até certo ponto clamavam contra, quando eram prejudicados principalmente
na área da saúde. A doença não dá aviso prévio. E, quando vem, a falta de
atendimento na hora certa pode causar perdas irreparáveis, além do sofrimento
nas filas e nos corredores de hospitais.
Mesmo assim, o grito de revolta só acontecia
depois das imagens estarrecedoras no horário nobre da televisão.
Setores
organizados da população trataram de elaborar o Projeto da Lei de Ficha Limpa,
o mais correto possível. Mas o Projeto por si só não bastava. Teria que passar
pela mesma classe política que é o objetivo maior dessa Lei.
Somente foi
aprovada diante do clamor público, porque os parlamentares tinham um olho nas
suas vantagens e outro no eleitor que poderia mandar alguns para casa nas
eleições seguintes. Foi aprovada quase na íntegra. O Senador Francisco
Dorneles(PP) deu-lhe um arranhão com a mudança de tempo de verbo, interpretada
como intenção de beneficiar colegas de partido, como Paulo Maluf(SP).
A sociedade
desejava a vigência dessa Lei imediatamente, porque a senvergonhice transbordava os limites da tolerância. Acabou não prevalecendo na eficácia imediata
em 2010, pelo alegado princípio da anuidade(Uma lei eleitoral só pode vigorar
no ano seguinte ao de sua aprovação).
Entre o
anseio popular, o espírito da Lei e a questão técnica, o Supremo Tribunal
Federal(STF) ficou dividido: 5 votos contra e 5 a favor de sua vigência
imediata. Voto de Minerva do ministro Luiz Fux desapontou especialistas
ao endossar o voto do relator Gilmar Mendes.
O professor de Ética e Filosofia
Antonio Valverde entendeu que Fux "decepcionou", e o Supremo Tribunal
Federal (STF) passou ao país uma mensagem de "falso legalismo",
deixando dúvida se a lei seja cumprida mesmo em 2012.
Alguns políticos estariam
inelegíveis por improbidade administrativa em razão de rejeição de contas pelos
tribunais de contas(do Estado ou da União). Os motivos das rejeições vão desde
licitações fraudulentas até nomeações de funcionários “protegidos” nas vagas
que deveriam ser preenchidas por concursados aprovados e disponíveis.
Na defesa de interesses
próprios, os legisladores alegam que as inelegibilidades somente podem valer
depois de julgamento por colegiado de juízes. Isto leva a polêmica às calendas
gregas. Depois disto, vão arguir o
princípio da presunção de inocência para arrastar processos até o veredito de
última instância(o próprio STF), esgotadas as brechas para recursos.
Com a sonolência da Justiça,
quando um processo chegar ao fim, os fichas sujas terão terminado seus mandatos
ilegítimos e feito suas fortunas ilícitas como de costume, e em condições de
pagarem os melhores advogados que não têm pejo em observar se seus honorários
vêm de lavagem de dinheiro ou não.
Se observarmos que o
recebedor de dinheiro ilícito comete o crime de receptação, iniciaremos outro
ciclo mafioso de uma história sem fim....
Aqui em Visconde do Rio
Banco, como em todo o Brasil, as eleições para prefeito e vereadores giram no
meio de um lodaçal, onde quanto mais se mexe, mais exala os odores de vícios
passados, incrustados no cerne do tecido político, de maneira intrínseca,
irremovível pela força do hábito repetido, consolidado que a impunidade
consagrou.
Cabe ao povo, em cada
eleição, ser agente do processo, na vigilância permanente dos atores desse
teatro “impróprio para menores”. E
procurar reciclar, dentro das oportunidades oferecidas, optar pelo “menos ruim”,
ou “menos pior”, como preferem alguns.
É comum as atenções se
voltarem somente para os candidatos a prefeito. Ledo engano. Da mesma forma, o
povo tem que agir na composição do poder legislativo, a Câmara de Vereadores. Tem
que passar um “pente fino” na composição do grupo e na avaliação individual. É
muito importante saber o que gasta aquela casa, como gasta, com quem, para que
fins; saber sobre o quadro de servidores, assessores, quantos para cada
parlamentar. Analisar se
justificam. Verificar o “corporativismo”. Saber quem atua a favor de causas justas e
sãs. Em cada Câmara há que separar o “joio do trigo”, para evitar injustiças. Uns
merecem continuar. Outros precisam ser substituídos.
No Município, as despesas
dos poderes refletem imediatamente nos impostos e tarifas públicas. Para maior
clareza: no IPTU, nas taxas sobre qualquer serviço, nos alvarás de construção,
nos de funcionamento de qualquer pequena empresa(bares, botecos, oficinas,
lojas etc.).
Por isto, o “analfabeto
político” não sabe que ele é responsável por todas as causas de onde “nasce a
prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político
vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”,
conforme a indignação de Bertold Brecht.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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