sexta-feira, 14 de setembro de 2012

COLUNA DO PAULO TIMM(De Portugal) - O debate sobre as mudanças no PT





Enviado por luisnassif, qui, 13/09/2012 - 13:58

Por enzo - Da Carta Maior

“Transformação” do PT gera polêmica em simpósio de História

Discordâncias sobre o caráter dos governos Lula e Dilma marcaram a mesa “Do petismo ao lulismo: o PT ontem e hoje”, uma das que abriram o Simpósio Internacional Esquerda na América Latina: História, Presente, Perspectivas, que acontece na USP. 

Todos concordaram que o PT mudou, mas enquanto André Singer defendeu as políticas sociais das gestões Lula e Dilma como cumpridoras de parte do programa original do partido, Cyro Garcia e Tales Ab’Saber condenaram o lulismo por, segundo eles, beneficiar grandes grupos econômicos.
Igor Ojeda, na Carta Maior

São Paulo – Discordâncias sobre o caráter dos governos Lula e Dilma marcaram a mesa “Do petismo ao lulismo: o PT ontem e hoje”, uma das que abriram o Simpósio Internacional Esquerda na América Latina: História, Presente, Perspectivas, que acontece a partir desta terça-feira (11) até a próxima quinta-feira (13) no campus da Universidade de São Paulo (USP). A programação do evento, promovido pelo Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pode ser conferida aqui.

Participaram da mesa “Do petismo ao lulismo” o cientista político e jornalista André Singer, ex-porta voz de Lula; Cyro Garcia, presidente do PSTU-RJ e membro da central sindical Conlutas; e o psicanalista Tales Ab’Saber. De maneira geral, Singer fez críticas ao processo de “transformação” do PT – principalmente, a partir de 2002, segundo ele – e buscou defender as políticas sociais adotadas por Lula e Dilma.

Garcia e Ab’Saber, por sua vez, condenaram as gestões petistas por, segundo eles, beneficiarem os grandes grupos econômicos.

Em sua exposição, André Singer afirmou que o PT surgiu como um partido de natureza radical mais significativa que seu caráter socialista. “Na história política do Brasil, há uma longa tradição de conciliação pelo alto. O PT se propôs a ser um partido radical a partir dessa leitura. Foi uma novidade a existência de um partido legal e abertamente radical. Numa cultura política avessa ao confronto, se apresenta como um partido que quer romper com a ordem. A segunda novidade e que deu certo: ganhou o apoio dos movimentos sociais desde o início”.

O cientista político listou três evidências concretas do radicalismo do PT durante os anos 1980, que se traduziu em três recusas: a primeira, a votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985, após a derrota das Diretas Já; a segunda, a votar a favor da Constituição de 1988; a terceira, o rechaço ao apoio do PMDB no segundo turno das eleições presidenciais de 1989, por este ser um partido burguês.

“Minha hipótese é que o PT arquivou esse radicalismo em 2002. Tomou a direção da moderação. Para mim, foi de repente, embora se olharmos com lupa os anos 1990 podemos perceber indícios disso. No entanto, publicamente, nos anos 1990 ainda não estava mudando. Em 2002, a mudança foi abrupta, com a assinatura da Carta ao Povo Brasileiro, que em seguida foi incorporada ao programa de governo do Lula. O que estava lá? Um conjunto de garantias ao capital de que o PT não faria um governo de ruptura. Foi uma mudança de fundo. De um partido de confronto para um partido de não confronto com o capital”, analisou.

Para Singer, o lulismo é a implementação na prática dessa nova política, mas com uma característica incomum: simultaneamente, a ativação de um mercado interno “por baixo”.

“Foram executadas políticas de combate à pobreza capazes de ativar o mercado interno e diminuir a desigualdade social, cumprindo uma parte importante do programa original do partido”. Segundo o ex-porta voz de Lula, essa realidade configurou, em 2006, uma nova base social de eleitores para o PT: adesão de setores de baixa e baixíssima renda e afastamento dos eleitores de classe média.

“Hoje, o PT, que era um partido da classe média, é um partido popular. Por causa disso, é muito forte, e essa realidade, somada à capilaridade que acumulou ao longo dos anos, fará com que sua hegemonia dure por muito tempo.”

O presidente do PSTU-RJ, Cyro Garcia, autor do livro PT: de oposição à sustentação da ordem, discordou de Singer quanto ao momento da mudança do caráter do PT. Para ele, a transformação do partido em uma agremiação “da ordem” começou a ocorrer em 1988, quando conquistou as eleições em várias cidades importantes do país.

“A partir daí, o PT passa por um processo de profunda burocratização – incrusta-se no aparato estatal burguês. O Congresso do partido de 1991 consolida um projeto reformista. Em 1992, expulsou a Convergência Socialista por defender o ‘Fora Collor’, avaliando que o mesmo tipo de mobilização poderia ser usado contra o Lula em seguida, pois tinham a esperança de que ele ganharia em 1994. Em 1994, passa a aceitar doações de pessoas jurídicas. A Carta ao Povo Brasileiro é o corolário dessas mudanças. O PT abandona o caráter classista e passa a defender o ‘cidadão’”, analisou.

Para Garcia, o PT tinha um caráter mais classista que radical, já que era formado por setores da Igreja Católica, grupos que haviam participado da luta armada contra a ditadura, organizações trotskistas e, sobretudo, o novo sindicalismo.

“O slogan de campanha era: ‘Vote no 3, o resto é burguês’. Sua característica principal era a ruptura da ordem.” 

Segundo o integrante do PSTU, o partido obteve um crescimento eleitoral progressivo ao longo da década de 1980 sem fazer concessões, contrariando, de acordo com ele, a tese de que uma agremiação de esquerda precisa ceder espaço para a burguesia se quiser ganhar eleições.

Na opinião de Garcia, o governo Lula se beneficiou de uma conjuntura econômica mundial favorável para executar uma política assistencialista que serviu, segundo ele, para manter a pobreza no país. “É uma política para se locupletar da pobreza. Por isso é o partido dos pobres, para que estes continuem votando no PT. Dá o peixe para que continuem dependentes.”

Segundo o integrante do PSTU, não houve distribuição de renda durante as gestões petistas, mas “concentração de renda”. “Tem muito dinheiro a banqueiros, empreiteiras. Um estudo mostrou que de cada real doado ao PT, as empreiteiras têm um retorno de R$ 8,50. É um investimento tranquilo, não é mesmo?”

Em sua exposição, o psicanalista Tales Ab’Saber explicou os principais eixos do seu livro Lulismo, cultura pop e cultura anticrítica. Segundo ele, as gestões petistas deram um passo na direção do favorecimento dos grandes grupos econômicos, estabelecendo um pacto social entre os extremos e uma inclusão social por meio do consumo. 

“Consumo como centro da própria subjetivação social e política”. Para Ab’Saber, “Lula comandou um grande processo de aceitação da hegemonia do mercado”.
“Houve uma celebração do aquecimento econômico, que pouco alterou a condição de vida concreta. O lastro real deve ser encontrado na expansão brutal das commodities brasileiras e na descoberta de novos campos de petróleo, que se traduzem em negócios futuros garantidos”, opinou. Para ele, após a eclosão da crise econômica internacional, o governo Lula passou a ser visto como um modelo conservador que pode reorganizar uma retomada do capitalismo.

“Por isso o Obama chamou o Lula de ‘o cara’. É um modelo edulcorado pela redenção do PT às práticas tradicionais. A gestão política foi entregue à direita política”, defendeu. Para Ab’Saber, toda essa política foi mediada pela figura carismática de Lula, um “ídolo pop”.
 
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O assalto ao estado

Por Marino Boeira - WWW.SUL21.COM.BR - 13/09/12 | 09:45

Em época eleitoral, o mesmo discurso se repete: o povo está sendo convocado para eleger os representantes que vão governar em seu nome o país, o estado e os municípios. 

Nessa ocasião nunca falta alguém para lembrar o famoso discurso de Abraham Lincoln, ao final da Guerra Civil Americana, em Gettysburg, proclamando a igualdade entre todos os cidadãos, representados por um “Governo do Povo, pelo Povo e para o Povo”. Nada tão ilusório, tanto lá nos Estados Unidos, como aqui no Brasil.

Num sistema político onde o capital interfere diretamente no processo eleitoral, patrocinando partidos e candidatos e onde os meios de comunicação – quase que sem exceções – promovem uma verdadeira lavagem cerebral entre os eleitores , dificilmente os eleitos vão representar objetivamente os interesses do povo.

Mesmo os pequenos avanços conquistados, como no caso das eleições de Lula e Dilma, nunca se completam, porque os eleitos são obrigados a assumir determinados compromissos que os impedem de radicalizar o processo de identificação com os interesses do povo.

Alguém dirá que isso faz parte do jogo democrático. Até pode ser. Mas, mais do que isso, o seu significado maior é a tomada do poder pelos interesses de uma classe social, a alta burguesia, representada por grandes empresários, negociantes e latifundiários. A privatização do estado moderno inseriu países e populações na lógica perversa do capitalismo, que constrói e destrói num ritmo cada vez mais alucinante, gerando riquezas para alguns poucos e pobreza para a maioria.

Na época da ditadura, o estado a serviço das classes dominantes, costumava usar o exército e a polícia para coibir os que se insurgiam contra esta dominação. Hoje, dentro da nossa normalidade democrática, o assalto ao estado se faz através de uma estratégia de ganho da opinião pública que transforma os interesses de pequenos grupos em interesses de toda a nação.

Os exemplos do estado servindo os interesses da grande burguesia podem ser vistos no dia-a-dia, embora possam aparecer disfarçados por medidas aparentemente de caráter popular. Veja-se o caso da isenção do IPI para a indústria automobilística. O ideal, num país como o Brasil, é o investimento pesado no transporte de massa – ônibus, trens, metrôs – e não em produzir mais automóveis que vão rodar em ruas e avenidas cada vez mais congestionadas. 

Mas isso não interessa às grandes montadoras. Como elas são geradoras de uma massa enorme de empregos, o governo abre mão de recursos que poderiam ser usados com outros fins, em troca da manutenção do trabalho em suas linhas de montagem.

Há poucos dias, a presidente Dilma anunciou cortes nas tarifas de energia elétrica. Os consumidores privados terão um pequeno ganho direto – cerca de 16% sobre as atuais tarifas – mas as empresas que absorvem grandes quantidades de energia, terão uma substancial diminuição de custos. A expectativa do governo é que além de mais competitivas, estas empresas repassem esta vantagem financeira para os seus consumidores, oferecendo produtos mais baratos. A dar atenção às palavras do empresário Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) , isto talvez não aconteça. Disse que “alguns setores como os fabricantes de alumínio estão no limite, operando com margens muito apertadas e que, portanto, essa redução do custo produtivo será usada como um alívio para esses empresários continuarem produz indo no País” . 

Ou seja, a redução nas contas de luz, servirá basicamente para aumentar a margem de lucro das empresas.

Outra forma de transferência de renda dos trabalhadores para os empresários é patrocinada pelos governos estaduais através de suas políticas de exoneração de tributos e suas conseqüências nefastas como a guerra fiscal entre os estados. Quanto cada estado abre mão de impostos em favor de empresas privadas é um segredo protegido por lei. 

As vezes, abre-se uma brecha nesse silêncio, como quando o Governador Tarso Genro reclamou que uma fábrica de calçados do Vale dos Sinos, que dispensara 200 empregados, tinha recebido incentivo fiscal do governo.

Como as grandes marcas de roupas e calçados esportivos dos Estados Unidos vem fazendo desde a década passada, produzindo a baixíssimos custos na Ásia e gerando desemprego entre os americanos, as fábricas brasileiras fazem o mesmo aqui. O êxodo de fabricantes gaúchos para o Nordeste em busca de mais lucros está dentro da melhor ótica capitalista. Se o Governo, porém, representasse os interesses de todo o povo brasileiro, ele encontraria uma maneira de impedir estas transferências de fábricas entre seus estados,que podem gerar uma melhoria passageira em suas novas sedes, mas empobrecem definitivamente suas terras de origem.

Isso não significa não apoiar as políticas de enfrentamento da crise mundial que os governos brasileiros, desde Lula, vem fazendo, apostando no aumento do consumo interno, mas sim, continuar denunciando aqueles setores dos grandes empresários e seus representantes na mídia, que procuram sabotar estes esforços e – acima de tudo – buscar esclarecer as pessoas que os limites para a melhoria do bem estar social dentro de uma sociedade baseada no lucro, são muito estreitos.

Marino Boeira é professor universitário

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