quinta-feira, 19 de julho de 2012

Em eleições financiadas pelo capital privado, eleitor tem dúvida se sua escolha decide


As eleições municipais pelo Brasil inteiro deixa o eleitor inseguro de seu verdadeiro papel na hora de votar, como acontece em Visconde do Rio Branco.
Ele se encontra diante de números e imagens que lhe são impostos à sua revelia.  Perfis criados por marqueteiros especializados em sondar o desejo do público  consumidor, o eleitorado, como pesquisa de mercado para vender qualquer produto no ramo dos negócios.
Pesquisa de Mercado - imagem: mbi.com.br

E, na maioria das vezes, os profissionais da propaganda eleitoral constroem a imagem dos candidatos distorcida de suas aptidões e intenções de trabalho.  Já aconteceu de alguns, depois de eleitos, negarem sua intenção de cumprir as diretrizes de seu programa de campanha, porque “aquilo” teria sido uma etapa  do seu caminho ao poder. Programa de campanha é uma coisa. Programa de governo é outra.  Não se coram na contradição, nem sem importam com a reação do público que leu, viu e ouviu suas promessas.  E confiam que os mesmos eleitores, em pleitos seguintes, estarão com a cabeça voltada para outro passo, e não ficarão de olhos no passado.
Mas nem sempre é assim.   segmentos da sociedade que pensam, guardam e se lembram do que fora dito e prometido.  Daí é que se fixa o estigma de candidato mentiroso, sem compromisso com a palavra empenhada e indigno de credibilidade.
Exatamente por causa de os marqueteiros forjarem o perfil dos candidatos baseado no desejo do eleitorado, esses, quando enganados, costumam, não raro, se indignar, votar em branco, nulo, se abster ou vender seu voto(o que é a pior atitude por seu descontentamento). 

Enquanto a manutenção de partidos e o financiamento de campanha forem realizados por fundos privados, pelos donos do dinheiro, essa contradição entre promessa de campanha e programa de governo acontecerá.  Os eleitos são comprometidos de fato com os financiadores que investem no processo eleitoral, para desfrutarem do retorno com altos lucros do capital investido. E não há como atender aos eleitores, de um lado, com bons serviços públicos, e aos capitalistas de outro, a cobrar o seu crédito privilegiado.  O eleitor é dispensável na incerteza do futuro, imaginam os profissionais da política, que o acham vulnerável e pode até vender o voto no momento certo. Já o financiador de campanha não pode levar calote.  Tem que estar garantido para o financiamento de futuras eleições na carreira do político.
Financiamento privado de campanha. Imagem: minaslivre.com.br

Assim, por maior número de candidatos que haja em cada município, a decisão se polariza em torno de dois, como acontece também nas eleições para presidente da república e para o governo dos estados.  Os financiadores investem naqueles com maiores chances vistas na sua pesquisa de mercado.  E é comum os mesmo investidores financiarem os candidatos de um lado e de outro para não perderem dinheiro. 
Cara ou Coroa. Imagem: recebiporemail.com.br

No final, resta na cabeça de significativa parcela de eleitores a ilusão de que eles escolhem. Associada a essa ilusão, vem a idéia de não “perder seu voto”.  “Perder seu voto”,seria votar em quem não fosse eleito.  O pior para o processo democrático é que, em eleição aparentemente equilibrada, essa parcela acaba sendo decisiva.  Cada voto que vira, tem o peso de dois: menos um de um lado, mais um do outro, faz a diferença numérica dupla.
Quando pudermos pensar na predominância do “voto consciente” – que se torna uma ilusão nossa -  o eleitorado deve realizar discussões coletivas, de forma elevada, analisando a vida, o passado, as perspectivas de futuro de todos os candidatos inscritos. Nessa análise, importa o caráter, a credibilidade, a competência, a seriedade.  Se tem passado político, como foi sua gestão no uso do dinheiro público.  Se suas obras tiveram custos compatíveis com o material empregado e com os benefícios ou prejuízos causados.  Obras vultosas, de resultados efêmeros, vulneráveis, que trazem mais problemas do que benefícios, devem ser consideradas negativas. Fazem parte de experiências inconvenientes.
Aos novatos devem ser observadas suas atitudes nas relações com negócios e compromissos particulares.  O homem público costuma repetir no âmbito político o seu estilo de vida privada, com seriedade ou desleixo.
A vida pública é carente de pessoas sérias, porque essas se negam a participar das atividades políticas. Isto é um mal, porque fica o espaço aberto para os de menor qualidade administrarem a vida dos demais. No final de contas, as pessoas sérias vão ter de pagar impostos àqueles que fazem mau uso do erário.  
As pessoas de bem teriam de ter participação ativa, cobrando, escolhendo, protestando e se oferecendo para uma missão que pode ser nobre se realizada verdadeiramente com vistas ao bem coletivo.  Os segmentos políticos perdulários fazem a sociedade pagar caro por suas farras e abuso de poder.  A ação política teria que ser feita com a mesma seriedade com que se cria uma família, no rigor do respeito, da disciplina, do exercício da cidadania, na parcimônia dos gastos, na boa aplicação das despesas, na constante busca da perfeição. 
Quando uma família constrói sua própria casa, aproveita o tempo, evita desperdício, e procura dar maior segurança para o abrigo de todos os seus membros.
Do mesmo modo, a sociedade – que é a família ampliada – precisa escolher seus governantes com o critério de seriedade para que o voto não sirva de moeda falsa nas mãos de ingênuos.  E a escolha da sociedade deve acontecer desde a formação dos partidos, passando pela constituição de Diretórios, com ativa participação na escolha dos candidatos a candidatos.
Sem isto, estaremos vivendo uma plutocracia festiva com distribuição de pão e circo para o povo de olhos vendados.
(Franklin Netto )
  

Nenhum comentário:

Postar um comentário