14/06/2012 - Quinta-feira
A construção do novo Fórum na Avenida Theophille Dubreil, bem em
frente ao antigo acesso do Engenho
Central, vem abrir caminho para a descentralização que se faz necessária na
cidade há muito tempo, para os serviços públicos e demais atividades de grande
porte. A única dúvida é saber se a obra está a salvo de enchentes da envergadura
da última, que atingiu aquela avenida e destruiu a ponte da Barra dos Coutos. O
piso onde os seus alicerces estão plantados fica entre o Rio Xopotó(Chopotó) e
a estrada de ferro, abaixo do nível atingido pelas águas.
Av. Theophille Dubreil - Rua dos Pedro. Imagem: www.asminasgerais.com.br
O raio de um quilômetro em torno do jardim da Praça 28 de
Setembro ficou pequeno para o trânsito e estacionamento. As idas e vindas da
periferia de um lado para outro, forçosamente se congestionam nas poucas opções
de tráfego na passagem pelo Centro. E quem
tem problemas a resolver nas instituições de saúde, repartições públicas,
agências bancárias ou casas comerciais tem que gastar muita gasolina e perder
tempo até encontrar um local para estacionar.
Praça 28 de Setembro, início do Ponto de Táxi. Imagem: Isah Baptista
Os estacionamentos rotativos amenizaram o problema durante algum
tempo. Mas vai chegando a um ponto em que, mesmo pagando por uma vaga por tempo
determinado, as oportunidades se afunilam.
Os
idealizadores do Hospital São João Batista tiveram visão muito além de seu
tempo, quando no longínquo 1910, começaram a construí-lo a um quilômetro e meio
da Praça 28 de Setembro, cujo jardim havia sido inaugurado há praticamente um
ano(17 de outubro de 1909, com no nome de
“Parque Municipal Peixoto Filho”, conforme crônica do Professor Sylvio Passos).
Visita do Presidente Antônio Carlos. Imagem: Irma de Paula
Visita do Presidente Antônio Carlos. Imagem: Irma de Paula
O Professor Sylvio passos conta que “os ideais da
construção de um hospital vinham desde o Império”. E que, já no Regime
Republicano “ocorreu um surto de febre amarela na
cidade, que veio, naturalmente, despertar no povo a necessidade de cuidar, mais
seriamente, da profilaxia, do tratamento de doentes, da higiene e de outros
problemas da vida comunal”.
E que
“Tendo, o Dr. Joaquim Correia Dias, prestado relevantes serviços de assistência às vítimas daquela epidemia, em 1896, foi agraciado, pelos poderes públicos, com um prêmio de oito contos de réis - quantia essa bem vultosa na época – a qual ele doou integralmente ao futuro Hospital de Rio Branco”.
E que
“Tendo, o Dr. Joaquim Correia Dias, prestado relevantes serviços de assistência às vítimas daquela epidemia, em 1896, foi agraciado, pelos poderes públicos, com um prêmio de oito contos de réis - quantia essa bem vultosa na época – a qual ele doou integralmente ao futuro Hospital de Rio Branco”.
Essa informação deixa a dúvida se o Hospital teria
sido construído longe do centro da cidade por visão de futuro, ou para proteger
a população contra a picada do mosquito Aedes
aegypti, o mesmo que transmite a dengue, e que transmitia a febre de primatas para
humanos ainda não vacinados e, quem sabe, de enfermos para pessoas sãs.
Para a população
urbana de uma época de Brasil essencialmente agrícola, o Hospital estava muito distante
do centro. Com o tempo as unidades de saúde, o comércio, bancos, escolas e as
repartições públicas foram se instalando naquele miolo, próximo à Igreja Matriz
e à Estação da Leopoldina. As saídas para
os cantos da cidade(subúrbios) eram de chão batido. Durante as chuvas, os
morros de acesso ao “Largo” se tornavam literais barreiras para os carros de
boi e pedestres. Do lado da Rua Santo
Antônio havia a subida da Rua Voluntários da Pátria, por muito tempo chamada de
Quebra.
Para a Piedade e Chácara havia o Musungu e o morro do Rosário.
Para a Barra dos Coutos o obstáculo era o Morro do Hospital. Para o Barreiro de
Trás, o Morro da Forca era um verdadeiro topete; mesmo a pé era pesado de
subir. Somente a Rua Nova – Av. Dr. Carlos Soares – oferecia uma reta praticamente
plana para ao seu final, que já era subúrbio.
Desse final, durante muito tempo chamado de Manoel Craveiro, uma ligeira
subida em curva dava acesso ao Filipinho.
Av. Dr. Carlos Soares - Rua Nova - trecho próximo à Av. Governador Valadares. Imagem: Isah Batista
Como o Barreiro de
Trás, havia o Barreirinho, atualmente Rua Téofilo Otôni, uma ligeira subida
para os carros de boi levarem cana à Usina São João(Bouchardet). Em todos esses morros, os animais sofriam as
ferroadas das aguilhadas dos carreiros e candieiros.
Desse tempo em
que menos de 10% da população vivia na cidade(Zona Urbana), as transformações
sócio-econômicas inverteram os percentuais. Hoje Visconde do Rio Branco tem
mais de 80% de habitantes na Zona Urbana.
A roça ficou vazia, com baixa densidade demográfica.
A paciência dos carreiros de boi cedeu lugar à velocidade e à
impaciência dos motoristas. Acabaram-se as cocheiras para charretes e cavalos. As ruas são poucas e estreitas. Há prédios de
valor histórico sendo demolidos para se transformar em estacionamentos de
veículos motorizados, em plena Praça 28 de Setembro.
O primeiro Terminal Rodoviário foi construído na lateral do
jardim, nos anos 50 do Século passado. O bairrismo de nossos políticos
considerou-o “a melhor Rodoviária de Minas, depois de Belo Horizonte”. Não havia mentalidade ecológica. A obra exigiu derrubada
de belas árvores do Parque Peixoto Filho, cantado por Lourival Passos, em Luar de Rio
Branco. Na verdade, deixou o Parque
aleijado na sua composição ideal. A estética
daquela riqueza natural veio a ser abalada com a construção, bem no meio, do
atual Coreto, nada bucólico, em comparação com o original, cheio de arte e criatividade,
charmoso. Essa obra parece dar mais uma
mensagem de poder, de ocupação(ou usurpação), à semelhança das motosserras que
devastam a Amazônia, como terra de ninguém, porque pertence a todos.
Prédio construído na década de 50(Sec. XX), para o primeiro Terminal Rodoviário. Imagem: Isah Batistap
Coreto construído nos anos 70(Séc. XX). Imagem: Isah Batista
Coreto atual: Jefferson Coelho
Coreto antigo. Imagem: Danton Ferreira
Coreto antigo e o atual. Imagem: Danton Ferreira
O Terminal Rodoviário, construído no início dos anos 90 a dois
quilômetros do Jardim, teve a opinião pública divida. Os moradores dos extremos
da cidade, a não ser os próximos a ele, achavam que ficava muito distante para
quem tivesse de viajar para outras cidades. Os que na época já viam a
necessidade de descentralizar apoiaram. Hoje é de se reconhecer o acerto da
medida.
Terminal Rodoviário - Entre a Rua Nova e a Gen. Osório. Imagem: Isah Baptista
A criação de bairros com acesso às vias principais, provocou a
expansão de muitas atividades para lugares mais distantes. Os poderes públicos
precisam transferir parte de seus próprios serviços, como acontece com o Fórum.
E serem criativos para conceder incentivos aos investidores produtivos realizarem seus negócios para além
dos aglomerados populacionais, onde há espaço suficiente para se instalarem
negócios e se abrirem ruas.
(Franklin Netto – taxievoce@hotmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário